De: Alexandra Sepúlveda - "Em resposta/complemento ao comentário/apelo de Pedro Figueiredo"
Em resposta ao comentário/apelo de Pedro Figueiredo: «O que é o “empreendedorismo”? Deixo a pergunta… O empreendedorismo é um “produto” descartável e normalizado? Ou é possível haver “empreendedorismo” com mais pressupostos que os do individualismo? Empreendedorismo de carácter social? Empreendedorismos colectivos?»
Para algum esclarecimento em relação ao assunto, deixo aqui um excerto que poderá servir de ponto de apoio para uma dissertação coerente:
«O conceito de Empreendedorismo Social ganha hoje em dia uma nova vitalidade tentando estimular ONG’s, cidades e organizações, no sentido de promover a sua capacidade de inovação e criação de novas organizações e modelos que permitam uma melhoria na respostas às necessidades básicas dos Cidadãos no que diz respeito à saúde, ao emprego e ao lar. (Mulgan G., 2006) Poderá assim definir-se Empreendedorismo Social como o uso inovador de recursos para explorar e tirar partido de oportunidades que vão de encontro às necessidades básicas dos Cidadãos, de um modo sustentável.»
Ora, se é possível que haja Empreendedorismo Social assente em pressupostos mais nobres que os individualistas? Com certeza, mas não sigamos tão longe. A verdade é que temos, hoje em dia, dois projetos em curso, na Cidade do Porto, que estão a dar que falar. Ambos tratam de Empreendedorismo Social ou, caso se prefira, de Inovação Social, mas mediante a forma como se apresentam à sociedade o nível de aceitação perante os mesmos é significativamente diferente.
Um dos casos em questão trata-se do já referido ES.COL.A, sedeado na antiga Escola do Alto da Fontinha. Este movimento, está altamente relacionado (principalmente no que concerne ao meios de comunicação social), com o Movimento Okupa que, na minha opinião, pouco se assemelha ao que sobre o mesmo se apregoa. A abordagem muitas vezes enveredada por estes movimentos, no entanto, vem desprovida de diplomacia - característica do movimento em si, mas que não deixa de o lesar de algumas valências e possibilidades. Outro dos casos em mãos trata-se do Projeto Arrebita!Porto, originário de um concurso promovido pelas Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Talento, pretende proceder à reabilitação a custo zero através de um regime de trocas e contrapartidas e não pelo pagamento de serviços em dinheiro, que envolvem três agentes - estudantes estrangeiros, empresas e universidades.
Ora, como se poderá imaginar, o segundo tem vindo a dotar-se de maior 'reconhecimento', por assim dizer - evito usar a palavra 'legitimidade' porque apenas me referiria a uma legitimidade política, institucional -, mediatismo e apoio generalizado - é encabeçado por um jovem profissional, surgiu no âmbito de uma iniciativa empreendida por entidades de renome, envolve agentes preponderantes do mercado, etc. Ao passo que o primeiro é muitas vezes depreendido com desconfiança porque, pura e simplesmente, abre a questão acerca da "potencial" incapacidade, ou indisponibilidade, da Administração Pública não dar conta de problemas graves no seio do espaço urbano, a ponto de ter que parte da insurgência da sociedade civil, a vontade de empreender um processo de mudança - um movimento social.
Gera-se aqui um problema ao estilo do "quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?" É o Movimento Okupa que se deverá dotar de alguma diplomacia, no sentido de usar de algum jogo de cintura, com vista a uma legitimação por parte da Administração/Opinião Pública? Ou é à Administração Pública que cabe o papel de identificar estes movimentos e estas iniciativas antes que estas se lhe esfreguem no nariz? Apenas mais uma contribuição para a reflexão acerca do Empreendedorismo/Inovação Social, os seus agentes e atores, os seus facilitadores, os seus recursos e meios... Pode ser bem mais complicado e "cabeludo" do que, à partida, (desesperadamente) esperamos que seja...
--
Alexandra Sepúlveda Silva