De: Alexandra Sepúlveda - "Da Investigação"
Estando inserida no meio académico, sou constantemente assoberbada por estudos, projetos, artigos e opiniões. As teorias são muitas, defendidas por uns e criticadas por outros. As abordagens às diferentes problemáticas variam de geração para geração e consoante a orientação disciplinar de quem as empreende, resultando num vasto leque de visões fundamentadas de acordo com determinada lógica ou linha de pensamento. O conhecimento técnico é hoje em dia cada vez mais específico e especializado, obrigando a que cada processo de investigação seja mais incisivo e cirúrgico. Não comportará esta tendência o risco de aprofundar o afastamento a uma visão mais abrangente e compreensiva de temáticas que são, na sua realidade, fruto de relações de interação complexas, entre vários agentes e fatores?
À data, o ritmo galopante a que se processam as transformações no território, fruto de dinâmicas socioeconómicas cada vez mais complexas, dificulta o trabalho aos que se dedicam a tentar descodificar estes fenómenos no sentido os interpretar e a partir dos mesmos deduzir e esclarecer relações que os clarifiquem. Os paradigmas sucedem-se em catadupa, dificultando à actividade de investigação o adequado tempo de maturação necessário à consolidação de conceitos e ilações. Além do que, no que concerne aos frutos da investigação propriamente dita, questiono-me acerca desse conhecimento, fruto do trabalho dos nossos investigadores mais bem qualificados, e da utilização que é feita do mesmo, aquando da obtenção de um produto.
Isto é, de que forma se transfere o conhecimento que é produzido nas universidades e institutos de investigação para a Administração Pública? Ou, de outro modo, agora que estamos num época em que "governança" é a palavra de ordem, e em que os atores intervenientes na estruturação e organização do território vão muito para além das instituições públicas, de que forma poderemos criar canais de comunicação que permitam uma transferência de informação eficiente entre os agentes que se dedicam ao estudo e à investigação, e os agentes que estão "em campo", i.e., realmente em posição de proceder à decisão estratégica, e que poderão em concreto dar uso a essa produção de conhecimento?