De: Jorge Coelho - "Valorizar o povo e a cultura da Cidade do Porto"
A cidade tem os seus componentes nas freguesias, nos lugares, nos bairros. Eles constituem a malha de um tecido que renova permanentemente o acontecer de culturas e de gentes que fazem o sentido portuense da realidade. Ambiente que a comunidade alterou e reconstruiu, construindo-se, a cidade é o espaço onde a cultura se realiza, nos costumes e nos sítios. O Porto tem nas freguesias o cimento, a estrutura do retrato físico e humano que expressa o rosto, íntimo, de aglomeração onde o espírito é feito de diferenças e de oposições. Mais do que divisões administrativas, as freguesias, com os seus lugares, espaços, tradições,constituem o esqueleto da identidade portuense enraizada em maneiras de viver, por vezes estranhas umas às outras, diferentes e complementares. Assim como existe um caráter do Porto, poderemos de igual modo falar da originalidade das suas freguesias.
Se no centro histórico as freguesias se confundem, embora numa segunda análise a geografia,a arquitectura e o carácter de cada uma sejam evidentes,o contraste entre as ribeirinhas e as interiores é flagrante, a separação física e cultural entre as orientais e as ocidentais é persistente. Tudo começou na Sé, a seguir São Nicolau, Vitória, Miragaia, Massarelos, depois foi-se estendendo a urbanização de Santo Ildefonso, Cedofeita, Bonfim, as mais rurais, Campanhã, Ramalde, Paranhos, Aldoar, e as mais próximas do mar, Nevogilde, Foz do Douro e Lordelo do Ouro.
Eis o que se deveria fazer compreender aos economistas e aos políticos de todas espécies e de todos quadrantes, que a fusão das freguesias não respeita as pessoas, não valoriza a cultura e retira a grandeza da história secular da cidade do Porto.