De: David Afonso - "Obras"

Submetido por taf em Sexta, 2006-09-08 19:16

1. Várias ruas (ou troços delas) da baixa da cidade vão para obras de reconversão ao abrigo do Programa Urbcom. São elas: Santa Catarina, Passos Manuel, Formosa, Bonjardim, Ateneu Comercial do Porto, Praça Filipa de Lencastre e Largo Moinho de Vento. A minha primeira reacção será sempre: «Só estas?» E ficarei por ali a ruminar na sorte da Rua das Flores e Mouzinho da Silveira. Parece que ainda não é desta. Depois, apreensivo: é que mesmo assim são artérias muito delicadas e preciosas, quer do ponto de vista patrimonial, quer do ponto de vista de gestão do tráfego urbano. Isto vai ser complicado. Mais um ano, pelo menos, a sacudir o pó das obras e a aturar as buzinadelas dos cidadãos automobilizados. Já estamos nisto há 6 anos! Mas tudo bem, trata-se de um mal necessário como a história dos ovos e das omoletes. Talvez até seja esta a oportunidade de se corrigir a boca de entrada (não a de saída porque essa já nasceu torta...) e retirar aquele mono para um sítio mais apropriado (tipo para uma auto-estrada, sei lá! afinal que sei eu destas coisas?), substituindo-o por uma sinalética mais adequada à nobreza daquele espaço (temos lá um hotel de 5 estrelas e a casa onde o Camilo foi julgado, agora transformada em restaurante pseudo-turco). Depois disto fico triste, com vontade de abalar desta cidade de vez: Mas então não se fez um concurso público de ideias porquê? Sem por em causa a competência dos técnicos da GOP (empresa municipal), não ficaria a cidade melhor servida por um concurso aberto a arquitectos e urbanistas? Até poderia ser um concurso especial em que a população poderia ser chamada a dar a sua opinião. É que uma cidade para se fazer notar tem de fazer algum barulho. Não basta chorar. É necessário fazer da sua reabilitação uma celebração e tem de encontrar para si a melhor das soluções. Agora assim...

2. As obras chateiam, já se sabe. Não há volta a dar-lhe. Quanto muito tenta-se minimizar os incómodos e precaver acasos desagradáveis. É coisa que é da responsabilidade do dono da obra e dos técnicos de higiene e segurança. Durante estes meses tenho acompanhado as obras da Metro do Porto, primeiro nos Aliados, depois em S. Bento e Av. da Ponte. Não, não sou um mirone reformado. Pura e simplesmente tenho de passar por lá diariamente porque, mais uma vez, não há volta a dar-lhe. A mim parece que a Metro ou o empreiteiro ou os sub-empreiteiros (qualquer um tem responsabilidade nisto), não estão a levar muito a sério a segurança dos transeuntes: os percursos provisórios estão mal assinalados (eu próprio fiquei preso numa ratoeira, numa gaiola sem saída feita arame), são demasiado estreitos (reparei numa senhora que não tinha espaço por onde passar com o carro de bebé, tendo de optar pela rua!) e com "pavimento" impróprio para "civis" (frente a S. Bento justificava-se a instalação de passadiços metálicos com guardas, por exemplo). Também não pude deixar de reparar que os trabalhadores, na sua grande maioria, não usa capacete e outro material de protecção adequado e que nem todos são identificáveis como pertencentes à obra (sem placa ou insígnia identificativa da empresa, nem capacete como vou eu identificar o operário que me manda parar no meio da rua? É que aquela zona ali não é para brincadeiras...). Às vezes abusa-se da sorte sem necessidade, já para não falar do aspecto terceiro-mundista que estes estaleiros de obra transmitem à cidade. Não por serem obras, mas por serem feitas desta maneira. E se não são as obras públicas a dar o bom exemplo...

3. Só mais uma para acabar. É impressão minha ou a Avenida da Ponte vai ficar completamente despida de árvores?! Aquilo debaixo do sol é um verdadeiro martírio! A não ser que o arquitecto vá recorrer ao mesmo estratagema adoptado nos Aliados, instalando uns guarda-sóis para conforto da populaça. (Tenho a minha máquina fotográfica avariada, se alguém passar pelos Aliados não deixe de fotografar essas inusitadas peças de mobiliário urbano...).

David Afonso
attalaia@gmail.com
Dolo Eventual