De: Paula Morais - "DESABAFO PÚBLICO..."

Submetido por taf em Quinta, 2012-02-02 15:12

... sobre os DIREITOS (de uns) vs os DIREITOS (de outros) em mais um dia de GReVE de TRAnsPORtes

Sou cliente da STCP (Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, e agora da TIP - Tranportes Intermodais do Porto, ACE) há 20 anos. Neste 20 anos paguei sempre adiantado (através de assinatura mensal) o serviço de transporte público no Porto, incluindo nos meses de férias escolares (para poder ir à praia e passear na Cidade). Acatei sempre os aumentos sucessivos dos valores cobrados (3 aumentos em 6 meses por exemplo) por entender que se o objectivo é atribuir sustentabilidade económica a um serviço público (que é de todos portanto), todos (incluindo eu) poderíamos contribuir para este momento de carência geral de recursos financeiros. Também fui sempre admiradora das acções de reestruturação que esta empresa pública de transportes efectuou ao longo dos tempos, a adesão à intermobilidade, a criação do gabinete de apoio ao utente, a nova frota de veículos ecológicos, os serviços criados especificamente para acções culturais, com as parcerias com Serralves, a Casa da Música, etc...

Neste tempo de utente dos serviços, e fazendo contas de memória, assisti a cerca de 300 dias de greves (fundamentadas nos mais diversos motivos), ou seja, quase um ano inteiro de greves. Nesses dias de greves, e sem nunca ter reclamado pois entendia eu que como cidadã, tinha de compreender e aceitar os Direitos de outros cidadãos que estão protegidos pela Constituição, cheguei tarde a aulas importantes, faltei a três exames, cheguei atrasada a encontros com amigos, cheguei inúmeras vezes atrasada ao primeiro emprego, deixei de fazer compras em dias de promoção em algumas lojas na Baixa (que não voltaram a repetir tais promoções), passei imenso frio (e calor) nas paragens de autocarro à espera, à espera, à espera, quase sempre sem assentos em número suficiente nas paragens e, sobretudo, sem informações... Aproveitei sempre essas longas horas de espera para ou andar a pé (e atravessar a Ponte da Arrábida a pé com 9 graus de temperatura às 07h30m da manhã consegue ser arrepiante!) ou para ler livros que só leio quando tenho de estar à espera (foi assim que li o MEMORIAL DO CONVENTO de Saramago, entre outros). Nesses momentos de compreensão dos Direitos de uns, fiz amigos nas paragens e nas viagens a pé, desabafei e ouvi desabafos, assisti a acções de cidadania para com pessoas mais velhas...

E hoje, porquê este desabafo público? Talvez para partilhar a TODOS que aqueles (uns) que contribuem (moralmente porque não reclamam e economicamente porque pagam os serviços e os impostos) para que os outros tenham Direitos, também têm Direitos. O equilíbrio entre estes Direitos é absolutamente necessário, principalmente nos momentos em que eles (os Direitos) mais são necessários, caso contrário, quando só os Direitos de uns prevalecerem, serão sempre actos de "terrorismo de cidadania" para com os Direitos dos outros, que assistem indefesos na capacidade de defender os seus Direitos.

Paula C. P. M.
(Cidadã e Utente, por princípio, de Serviços Públicos de Transportes)