De: Pedro Figueiredo - "Arménio Losa - Rua da Constituição (1950-52)"
Arquitectos: Arménio Losa e Cassiano Barbosa.
Clientes: António de Sousa Pedrosa Carvalho, Clara de Sousa Camarinha, José Maria Nunes. 1950 – 1952.
Este edifício é construído num lote – raro lote – resultado da fusão de três lotes contíguos, pertencentes respectivamente aos promotores citados. A união entre proprietários permitiu potenciar a escala do investimento/edifício. Habituados que estamos a circular no Porto, sentimos quase intuitivamente algo estranho na escala deste edifício. E que é precisamente a escala da sua fachada, pouco comum face à predominância no nosso Porto da construção em parcelas de frente estreita - resultado do “urbanismo” da idade média (as famosas frentes de 6/7 metros com que diariamente somos confrontados).
Esta longa fachada foi desenhada com uma clara expressão: há uma espécie de “pano perfurado com buracos de disposição regular” (janelas na parede) a pesar de forma leve (como que “a levitar”) sobre um embasamento com uma expressão contínua e diferente. A base é escura, a parede perfurada é clara. A base tem janelas contínua, a parede perfurada tem um mix de grade de ripas verticais + fibrocimento ondulado e pintado escuro + pilares de pedra polida negra aparentes e semi-destacados. A expressão da parede perfurada é enriquecida pelo desenho de cada janela com um beirado saliente em betão que destaca cada vão, reforça o efeito “buraco talhado na parede”, confere expressão e dignidade a cada vão através deste caixilho extra… (“não serve para nada”, diriam alguns, pois serve para isso mesmo: para a expressão…).
Não se vê da rua o facto de ter três caixas de escadas / quatro fiadas de habitações, quando normalmente a poupança/especulação “determina” a redução de acessos verticais ao mínimo de 1 caixa por cada esquerdo-direito, que neste caso seriam 2 caixas de escadas / 4 habitações esq.-dir.… Mas o edifício possui antes uma caixa central para 8 habitações de pequena dimensão e cada ponta do edifício possui, “na ponta”, outra caixa que serve cada uma 4 habitações de tamanho maior (“familiar”)… Aparentemente terá havido (digo eu, tal como no edifício DKW da Rua de Sá da Bandeira) uma preocupação (nova na altura) em tentar inovar ao nível do tipo de habitar urbano a propor… Neste caso, propõe-se um mix de habitações para pequenas e grandes famílias ou “bolsos maiores / bolsos menores”… E também não se vê da rua, mas “a” sala e os quartos voltados para Norte / Rua da Constituição têm a “inovação” de se poderem fundir ou separar conforme se queira abrir ou fechar as grandes portas de correr que os separam ou unem conforme a necessidade do momento: sala enorme com duas zonas ou sala mais pequena com quarto, ou sala + escritório, bastando para tal fechar ou abrir o vão corrido… Hoje não é original, mas à altura era. Ontem ou hoje, esta versatilidade no “habitar” é sempre inteligente de qualquer forma.
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