De: Carla Santos - "Ruas vendidas"
Decidi contactar-vos, pois encontro-me em estado de choque com as novas notícias sobre a nova gestão de estacionamento na cidade do Porto. As ruas foram, praticamente, todas vendidas! Resido no centro da cidade, cidade que escolhi para viver. Tenho um carro, idoso, mas que me faz alguma falta e como a maior parte dos moradores no centro da cidade, não tenho garagem.
Possuo cartão de residente, que, apesar de tudo, não é nada funcional, pois acabamos por ter que pagar metade das horas (4 horas diárias) e por essa razão sempre optei por deixar o carro estacionado a alguns quarteirões de casa,numa rua sem parquímetro, que só tem lugares disponíveis a partir da noite. Nessas alturas era um verdadeiro pesadelo conciliar onde deixar o carro, as horas a que tinha que ir trabalhar, as horas que, após o trabalho, me eram mais convenientes para chegar a casa (chegou ao ridículo de acabar de trabalhar e andar a passar o tempo noutro lado até chegar uma hora conveniente para ir para casa, pois antes disso não iria arranjar lugar e na maior parte das vezes estava cansadíssima e só queria chegar a casa como as pessoas normais). Quando, porventura, chegava a casa de madrugada, lá caminhava sozinha os quarteirões até casa, só para poder deixar o carro numa rua que não me causasse ainda mais preocupações. Uma verdadeira escravidão, deteriorando a minha qualidade de vida, devido à falta de lugar.
Neste momento, com as últimas notícias sobre os novos locais de parqueamento privado pago, é praticamente impossível não pagar, pois as ruas estão quase todas privatizadas! Se era um pesadelo viver no centro pela falta de garagem, agora é um verdadeiro atentado! Neste momento encontro-me desempregada e pagar a moedinha 4 horas por dia, 5 dias por semana está absolutamente fora de questão! Eu questiono-me aos iluminados que permitiram a venda das ruas que deveriam ser de todos, onde é que vou deixar o carro? Quais são as alternativas? Queixam-se que o centro da cidade é desertificado. Eu fiz um favor à cidade e vim para aqui viver. O sonho tornou-se pesadelo. A cidade está a expulsar-me. Se a cidade não oferece condições para ter as pessoas a viver dentro dela, então que cidade é esta?
Carla Santos