De: Alexandre Ferreira - "O Assalto Final - A destruição do Norte para sustentar o futuro de Lisboa"
Está neste momento em marcha por parte do Governo, que deveria de ser de Portugal, uma acção concertada que tem como objectivo final garantir que às custas e prejuízo do Norte se promova exclusivamente a sobrevivência da economia de Lisboa e que se garanta que seja a única região apetecível para o investimento e que igualmente se transfira a capacidade industrial em torno de Lisboa, destruíndo irremediavelmente o emprego e o futuro do Norte. Como? Através de duas decisões complementares, de tal forma graves, enviesadas e desfasadas de critérios racionais que se podem considerar anti-nacionais e definitivamente discriminatórias.
A primeira é relativa ao Porto de Leixões, o porto de mar que mais exporta, o mais eficiente, a principal porta de saída das exportações nacionais e o único, repito, o único porto nacional que dá lucro. O objectivo do denominado Governo de Portugal é fundir a gestão de todos os portos nacionais, com a desculpa de poupança na gestão, mas na realidade é uma forma de retirar a autonomia da Leixões e dessa forma poder financiar os prejuízos dos restantes portos portugueses, ineficientes e deficitários, e também perturbar e condicionar a gestão de Leixões de forma a que ele deixe de ser um concorrente eficaz, tornando-se desta forma irrelevante e submisso aos interesses de outros portos que até agora se têm revelado incapazes de concorrer pelos seus próprios meios. Questionem-se apenas quais serão as prioridades dos gestores desse futuro instituto quando sentados no seu gabinete com vistas para o Porto de Lisboa. Uma vez mais sacrifica-se a eficiência e a competência aos clientelismos e centralismos.
A segunda acção de extrema gravidade em andamento é o abandono da ligação Porto-Vigo (o eixo mais povoado e a fronteira com maior tráfego) por comboio de velocidade elevada, desviando ou roubando (escolham o verbo mais apropriado) as verbas europeias já destinadas para esta ligação em benefício da ligação Lisboa-Madrid. Esta situação revela-se ainda mais encandalosa, pois segundo o um representante da Comissão Europeia "a aposta de Alta Velocidade portuguesa irá servir os portos de Sines, Setúbal e Lisboa, e Aveiro via Salamanca, deixando, pelo menos para já, fora desta rede europeia Leixões e Viana." Não é coincidência. É objectivamente intenção do Governo promover a competitividade dos portos que se têm revelado deficitários, prejudicando e retirando qualquer tipo de competitividade aos portos de Leixões - Viana do Castelo e a Região que servem no escoamento das cargas que recebem ou exportam no contexto nacional, relegando-os para a irrelevância.
O que significam estas decisões? Significam que ao privilegiar os portos e as ferrovias em torno de Lisboa e ao tornar menos competitivos e deficientemente ligados com o exterior as infraestruturas que servem o Norte, que apenas Lisboa será competitiva e atractiva para o investimento industrial e logístico pois terá todas as mais-valias e o Norte em comparação não terá argumentos para competir. Além disso, a médio prazo, as indústrias que se encontram a Norte, neste momento a região mais exportadora do País e a que apresenta balança comercial positiva, serão levadas a deslocar-se para a zona de influência de Lisboa, pois ao terem custos superiores e demorarem mais tempo a escoar os seus produtos a Norte, irão paulatinamente sair do Vale do Ave e Sousa, do Minho, da AMP e instalar-se em redor das infraestrutras portuárias e ferroviárias que lhes garantam melhores ligações e que se situarão exclusivamente em redor de Lisboa. Esta deslocação do tecido produtivo irá resultar na destruição da economia do Norte e num desemprego ainda mais elevado, pondo em causa o futuro e a sobrevivência da Região mais povoada de Portugal.
As implicações destas decisões por parte do suposto Governo de Portugal, que de uma forma intencional e concertada, condenam à miséria e ao isolamento o Norte de Portugal, obrigam a que desta vez todas as forças políticas, cívicas e económicas, deixem por uma vez de lado as suas fidelidades aos seus directórios centrais, aos seus egoísmos e inércias de ocasião, e se juntem de uma forma concertada e unida na defesa dos interesses justos e legítimos do Norte, sem quartel e sem compromissos que não sejam a manutenção da autonomia dos portos e iguais ligações ferroviárias. É que desta vez a derrota e a passividade irão significar o destruição e o abandono do Norte e dos seus habitantes, de forma irremediável, com um impacto que se irá repercurtir por gerações. Os que têm responsabilidades e poder neste momento serão julgados à luz da história do que fizerem agora e do seu sucesso para evitar este crime de lesa-pátria.
Alexandre Ferreira
MPN