De: Alexandre Burmester - "Ao «Voador»"
Conta-se que há uns anos, quando da inauguração da estrada nacional Nº1 junto à Batalha, estavam as autoridades entre as quais o então Ministro das Obras Públicas a aguardar a chegada do Salazar, quando surgiu no topo da estrada o seu automóvel. Subitamente este parou, deu a volta e regressou a Lisboa. No dia seguinte o Ministro das Obras Publicas foi demitido. O Salazar não gostou que a estrada passasse em cima do Monumento Nacional, ainda por cima a uma cota superior a este. Se esta história é verdadeira ou não, não sei, mas que aquela aberração está lá até hoje bem patente, isso está.
Vem isto a propósito destas resmas de auto-estradas que povoam a nossa paisagem e por eu ter usado nesta semana a A-32. Esta auto-estrada que liga S. João da Madeira a Vila Nova de Gaia não é nada mais nada menos que a terceira auto-estrada que em paralelo faz o mesmo percurso. Mas como se não bastasse o gasto desmesurado e patético desta obra, pasme-se que a mesma, muito embora não tenha trânsito à semelhança de muitas outras por este país fora, ainda por cima foi feita com 3 vias de cada lado. A sensação que se tem ao fazer este percurso, com mais de 30 Kms, é a de um voo a baixa altitude sobre a paisagem da região. Devem ter sido gastos alguns largos milhões porque quase toda a estrada é feita em cima das “obras de arte” dos engenheiros, sobrevoando a paisagem e cortando montes a torto e a direito. Aliás nunca tinha visto tantos montes chapiscados de betão tal foi a solução de contenção das terras. Desemboca esta pérola do conhecimento e das técnicas mais ousadas da engenharia de infra-estruturas portuguesa naquela outra patetice que dá pelo nome de CREP, também ela repleta de trânsito tal a importância do uso a que se destina.
Eu não quero Salazar nenhum porque estamos bem servidos de Salazares à data, mas que faz falta um a sério que tenha a coragem de fazer umas demissões e de chamar à responsabilidade outros tantos, isso faz.
Alexandre Burmester