De: Pedro Figueiredo - "Barragem do Tua No Passará!"
1 – A UNESCO no seu relatório (citado pelo jornal "Público"): "A barragem de Foz Tua tem um impacto irreversível e ameaça os valores que estão na base da classificação do Alto Douro Vinhateiro como património mundial". Fim de citação. Este relatório resultou de uma visita da UNESCO em Abril. Foi concluido no fim de Junho e remetido ao comité ICOMOS que acompanha a UNESCO nesta questão em Portugal, que o remeteu para as autoridades portuguesas em Agosto, neste governo não-Sócrates... Passa Agosto, passa Setembro – o governo entretido a cortar direitos sociais – passa Outubro – o governo entretido a cortar direitos sociais – passa Novembro e entra Dezembro e finalmente este relatório é tornado público... (O governo estaria à espera que passasse despercebida esta bomba nuclear?)
2 – Para facilitar o trabalho ao governo (mais entretido em cortar direitos sociais que em governar o território), aqui vai o que é preciso fazer, facilito o trabalho deste atarefado governo.
O mais fácil:
- a) Agora é preciso parar as obras da barragem. (Segundo Joanaz de Melo - grupo ambientalista GEOTA - a concessão da barragem custou 50 milhões de euros.)
- b) Depois é preciso indemnizar as empresas em causa, EDP e MotaEngil (Segundo Joanaz de Melo, há-de ser cerca de 60 milhões de Euros em indemnizações às empresas. Este ambientalista defende que os custos futuros da barragem a pagar pelos Portugueses na factura da electricidade seriam de cerca de 2 biliões de euros. Ou seja, a longo prazo estamos a poupar 1.940 milhões de euros - 2 biliões de euros menos os 60 milhões de euros em indemnizações).
- c) Limpar toda a obra já começada. Remover todos os corpos estranhos entretanto construidos no território.
O mais difícil:
- d) Conceber um plano nacional de poupança energética que substitua a energia que se iria gastar e produzir com esta barragem, mudando assim o paradigma "produzir para consumir" para o paradigma "pensar primeiro para poupar depois".
- e) Com as forças públicas e privadas da região do Douro elaborar um Plano Económico.
- f) Com a C.P. elaborar um plano para a reabilitação da Linha do Tua.
- g) Concertar com a UNESCO a "inclusão" no plano económico do plano para a Linha do Tua, os planos públicos e privados para o Turismo do Douro e do Tua, as entidades ligadas ao Vinho do Porto, ao turismo, o Museu da Régua, etc., de modo a que uns justifiquem os outros, e se apoiem mutuamente numa planificação económica, cultural, ambiental e "logística" (transportes) que faça sentido: Tua / Douro / Ferrovia / vinho do Porto / turismo - "ser realista e exigir o impossível".
- h) O "impossível" (nada é impossível) é enfrentar os lobbies, claro: falemos da privatização da EDP em curso, então. Esta barragem e todas as barragens do Plano Nacional de Barragens "valorizam" a EDP, acrescentando margem de lucro futuro aos abutres - perdão, aos investidores - que se seguirão! Sem a barragem do Tua no pacote a vender a Alemães, Chineses ou Franceses, a privatização vai sair a um preço mais barato. Pior para todos nós... tanto melhor para o Vale do Tua que já existe há milhares de anos e se ri de coisas efémeras que as suas escarpas não são obrigadas a compreender... Coragem, portanto, governo. Para indemnizar a EDP e a Mota Engil não é preciso coragem. É fácil, é o costume. Estamos habituados. A barragem já não é um problema do malvado Sócrates, é antes um problema do bondoso Passos Coelho... Continuarão a assobiar para o lado, fingindo não haver problema algum? Barragem ou património! A UNESCO foi claríssima.... (Parece-me que já oiço alguns autarcas da região, com a grande visão que os tem caracterizado, a dizer "Oh, mas valeu mesmo a pena a classificação? O que ganhámos nós com a classificação até agora?... A classificação não resolveu todos os nossos problemas! Somos uns meros caciques e irresponsáveis."
- i) Se o governo fechar os olhos à polémica, o Douro é desclassificado. Se o Douro for desclassificado vai haver revolta, dor e ranger de dentes. Haverá muito menos turistas (muitos conhecem e vêm porque a zona é classificada, é um chamariz típico do turismo internacional). Com menos turistas há muito menos economia numa economia já em declínio – não esquecer a situação dramática do corte do benefício aos vitivinicultores que está a estrangular os pequenos produtores (para gáudio de quem defende a lei da selva do Liberalismo no Douro)... Assunção Cristas, Álvaro e José Viegas: vocês ponham-se a pau com a questão da barragem do Tua: é uma bomba que vos explodirá nas mãos se o Douro for desclassificado. É um dossier que é transversal, é simultaneamente "Transportes", "Economia", "Turismo", "Energia" e tudo junto ao mesmo tempo.
- j) Que parte da frase "ou a barragem ou a classificação" é que a EDP não percebeu? A EDP não percebeu definitivamente a frase, pois logo de seguida disfarça com "areia para os olhos", chamando um arquitecto – Souto de Moura ao caso – para embelezar a barragem, fazendo crer que com isso está a dar um passo para cumprir os requisitos da UNESCO... Sem comentários. Somos um bocado burros, sim, mas não tão burros como a EDP nos pinta...
- k) Exigir Democracia e responsabilidade aos representantes locais é outra causa dentro da causa: como explicar os resultados no Douro de quem luta pelos interesses dos Durienses? Um mistério. Bloco de Esquerda e PCP - PEV têm lutado incansavelmente pelos interesses do Douro em múltiplos fóruns e os seus resultados eleitorais são fracos. E o que fez o deputado por Bragança (PS) Mota Andrade? Nada pela região. Tudo pelos lobbies. Votou sempre pelo Plano Nacional de Barragens contra os interesses da região. E o que fará pelo Douro o deputado da nação Pedro Passos Coelho (PSD) eleito por Vila Real?