De: Cristina Santos - "Os danos dos reforços não têm sido menos graves"
Em relação aos apontadores que o Tiago nos deixa, gostaria de deixar um pequeno apontamento relativamente aos reforços, sejam Barragem Venda Nova III ou outros. Não se pense que são patrimonialmente gratuitos, veja-se por exemplo o Salamonde II, esventrou paisagem lindíssima, foi feito no desfiladeiro das Fragas de Pena Má. A verdade é que é património natural esquecido, talvez até nem documentado como convém, mas dali se faz o caminho para o Fojo do Lobo, para as lagoas que parecem miniaturas dos Açores, para a aldeia de Xertelo onde há os moinhos de cubo abandonados, Fafião, enfim… Adiante que por ali também se chega à Misarela, e a tantos locais que estaria horas a enumerar.
A obra foi pequena, pelo que pouco valor acrescentou ao rendimento daquela população esquecida, parece-me que, ainda que não o admitam, será com enorme tristeza e pesar que olham para aquele betão a desfigurar os belos caminhos. O reforço Venda Nova II já tinha ceifado a vida a 2 homens respeitáveis e esventrado serra, são coisas que acontecem é um facto. O que é estranho é que nas aldeias propriamente ditas cada trovoada corta o abastecimento de energia. Também não deixa de ser estranho que, dadas as inúmeras necessidades desta região, o país apenas reconheça a existência para lá instalar centrais hidroeléctricas, antenas rádio-eléctricas, e na serra do Carvalho um moderno e potencial aterro sanitário que empesta de odores estonteantes a serra, e que se pode facilmente imaginar, soprado de eólica a eólica, até aos cornos das alturas.
Os tempos que correm são de inércia e envelhecimento, que se suportam com um encolher de ombros, como quem ajeita a sachola, que já não torna água, mas ainda guia a pouca carne barrosã e minhota pelos lameiros que restam.