De: Alexandre Burmester - "Vamos a chocolates"
Também eu me tenho desligado d'A Baixa do Porto, embora não deixo de a seguir lendo-a diariamente, mas não pelas razões apresentadas pelo Correia de Araújo sobre o desfoque do seu tema original. Na verdade A Baixa do Porto que inicialmente surgiu para o debate do Plano Director, acabou por se tornar numa tribuna sobre a cidade do Porto e cada vez mais também sobre a própria região Norte. Temas estes todos eles relacionados e sem uns os outros não têm sentido. Acho por isso que a Baixa continua a cumprir e a ser uma excelente forma de comunicação entre muita gente que se importa com a esta cidade e região. O facto de me desligar tem mais a ver com o desânimo que sinto ao presenciar todos os dias a forma como esta cidade/região é gerida (melhor dizendo não gerida), ao ponto de nos esquecermos que existem várias entidades públicas que andam omissas, começando pela nossa Câmara e em especial o seu Presidente, que deve ter metido chaves na porta do gabinete e que por lá mora escondido.
Triste é perceber que o Porto vira destino turístico com o apoio de uma empresa estrangeira e a quem o Estado dificulta a vida. Que a cidade reanima o seu centro com novas lojas e habitação com a iniciativa privada (possível) e que as entidades de licenciamento continuam a dificultar e a impor regras que não se aplicam. Que a excelente movida nocturna, que também já veio publicitada na comunicação estrangeira, não tem regras de convivência com a cidade e não há quem as saiba fazer. Que recebemos turistas e vivemos uma cidade que não liga ao seu Património, às suas margens e trata cada lado do rio como se dois feudos se tratassem. Que os buracos imperam em todas as ruas da cidade e só se asfalta o trecho do autódromo do Parque da Cidade. Não continuo porque afinal a época é Natalícia e será melhor fazer de conta que há que “adoçar”.
As prendas que recebo do Sr. Correia de Araújo, como “Doces sugestões” e com as quais todos nos satisfazemos, são todas motivadas pela iniciativa privada de muita gente que isoladamente faz pela vida, sem qualquer contributo, apoio e acompanhamento pelas ditas e omissas entidades. A região Norte/Porto mesmo com uma Administração ausente (já agora podia ser demitida que se ajustava melhor à necessidade do custo zero do nosso actual orçamento) tem tantas qualidades, que outros vão descobrindo, vendendo e usando. Pena é que não haja uma estratégia com capacidade para deixar fazer muito mais.
PS: Ao título das “Doces sugestões” proponho a leitura da “Tabacaria” de Álvaro de Campos:
“...Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!”...
Alexandre Burmester