De: António Alves - "Comboio Histórico"
Acerca do comboio histórico do Douro julgo que é oportuno fazer algumas considerações:
1) A linha onde ele circula, o troço Régua-Pinhão, é a mesma onde circulam os comboios regulares da Linha do Douro. A manutenção da via não acrescenta qualquer custo adicional à REFER por causa deste comboio específico já que a manutenção tem que ser feita para garantir a circulação dos comboios de mercadorias e passageiros do tráfego regular. A taxa de uso deve ser suficiente para pagar a passagem destas composições.
2) Não me parece apropriado a venda deste material circulante, devido à sua raridade, e ao seu valor histórico e arqueológico. Infelizmente deixou-se deteriorar praticamente todo o material motor e circulante da época do vapor. É património nacional que não me parece susceptível de venda ou aluguer.
3) A CP não tem instituída qualquer unidade de negócio para este produto. Este produto é gerido pela CP Regional, o negócio mais subfinanciado e desprezado no caminho-de-ferro português. Mas devia ter e fazer uma gestão profissional como por exemplo faz nos alfapendular e intercidades. Este pode ser um negócio de alto valor acrescentado que ajudaria a equilibrar as contas da empresa.
4) Pôr um comboio a circular não é fácil e não me parece, pelo menos para já, negócio para PME’s. O conjunto de normas regulamentares a cumprir é exigente e a formação de pessoal técnico é cara. Um comboio destes precisa de pelo menos dois maquinistas para ser conduzido já que hoje em dia não se formam fogueiros. Formar maquinistas é caro. O curso inicial na RENFE custa mais de 20 mil euros por aluno. Por cá diz-se que é ainda mais caro devido ao mercado fechado em que vivemos. Formar maquinistas para o vapor fica ainda mais caro. Os maquinistas não são o único pessoal técnico necessário.
Não vejo nenhuma razão objectiva para que não possa existir uma unidade de negócio própria com motivação e autonomia que possa explorar este negócio no seio da CP. Se a CP tivesse uma organização mais regionalizada e não fosse mais uns monstro centralizado na Calçada do Duque, e em Santa Apolónia em Lisboa, talvez houvesse mais sensibilidade para este potencial. Um consórcio de empresas que englobasse a CP e empresas turísticas pode ser também uma boa opção. O facto da CP ser uma empresa pública não implica obrigatoriamente que seja incompetente e mal gerida (esta assumpção já irrita!). Tirem de lá os políticos que percebem tanto de comboios como de gravatas e entreguem-na a gestores profissionais e ferroviários que aquilo anda.