De: António Alves - "Gente diferente para pior II"
Em relação às respostas a este meu post, só três coisas:
1) Os quadros da Metro do Porto não têm o direito de falar por todo o universo da empresa porque são apenas um escasso grupo de pessoas. Não têm também legitimidade moral para opinar sobre as greves dos outros da forma e no tempo em que o fizeram. Outros esses que ganham muito menos, milhares nem mil euros mensais líquidos. Não podem vangloriar-se de não cobrarem horas extras, feriados, noites e fins-de-semana a trabalhar. Santa paciência. O vencimento, elevadíssimo, dessas pessoas já inclui todas essas possibilidades. É norma os salários dos quadros incluírem pagamento por isenção de horário. E, gostem ou não, nos países mais avançados deste continente as diferenças salariais entre gestores e restantes trabalhadores não atingem as diferenças obscenas que atingem em Portugal, um dos mais desiguais da OCDE. Essa é também uma das causas do nosso cada vez mais escasso desenvolvimento económico e social. Os gestores não são nenhuma casta, nenhuma espécie de brâmanes com direitos divinos.
2) A CP Porto tem uma rede mais extensa, mas também tem uma frequência de circulações muito menor que a Metro do Porto. Logo a medida passageiro-km é a única possível e ajustada. O custo passageiro-km nas unidades de urbanos da CP são mais baixos que na Metro do Porto. A oferta em comboios-km (CK) e lugares-km (LK) na Metro do Porto é inclusivamente superior à da CP Porto. A Metro oferece 6.462.000 CK e 1.464.411.000 de LK; a CP Porto oferece respectivamente 5.068.000 CK e 2.348.000 LK. As realidades são perfeitamente comparáveis com a agravante da CP Porto, devido à sua maior extensão de rede, ter de suportar custos de alojamento em estabelecimentos hoteleiros das suas tripulações. Os regulamentos obrigam a CP Porto a ter dois agentes por comboio enquanto no Metro do Porto obrigam a apenas um, o que também representa um custo acrescido para a CP Porto.
3) Essas pessoas tentaram iludir as pessoas quando disseram que “Não há nem houve sindicatos nem comissões de trabalhadores. Muito menos houve greves”. Tal afirmação é mentirosa. Deviam ter dito: nós os quadros da Metro do Porto, empresa que falsamente só tem 100 trabalhadores, nunca fizemos greve. Pudera!
A Metro do Porto e os seus quadros lá por serem do Porto não estão isentos de críticas. Muitas vezes já defendi a Metro do Porto em muitos fora contra investidas centralistas. Mas também me irrita muito portocentrismo. É verdade que na CP também há muita coisa mal e muitas ineficiências, principalmente nas mercadorias e nos serviços regionais, mas o seu a seu dono. Convinha também que pessoas com responsabilidades, como os quadros da Metro do Porto, não caíssem na tentação de fazer demagogia da mais desqualificada. Não volto a escrever sobre este assunto. Causa-me urticária. E uma outra coisa para finalizar: a greve do passado dia oito não teve nada contra as empresas de transportes; foi sim devida à intenção do governo em roubar dois salários anuais aos trabalhadores como se fossem eles os culpados da má gestão, do desperdício e do facto do Estado ao longo de décadas não tivesse assumido a sua responsabilidade quanto a investimento em infra-estruturas e atirasse as empresas para o endividamento insustentável. E digo-vos por experiência própria: nunca tinha sentido tanta solidariedade e compreensão por partes dos utentes dos transportes públicos. Algo está a mudar. Estamos a largos anos da revolução industrial mas, infelizmente, em profunda regressão social. Os trabalhadores da CP têm de há anos a esta parte feito aquilo que lhes compete aumentado a sua produtividade: a empresa hoje tem uma taxa de cobertura dos custos operacionais superior a 70% apesar das indemnizações compensatórias absolutamente ridículas que o governo atribui ano após ano.
António Alves