De: Pedro Figueiredo - "O espantoso Prado (do Repouso)"
Para começar, “Prado do Repouso” deve ser dos nomes mais bonitos que se pode dar a qualquer coisa, cemitérios incluídos. Depois, a beleza deste nome é afinal uma beleza entre várias (“et pluribus unum”): nesta cidade também temos as Ruas do “Bonjardim”, “Boavista”, “Alegria”, “Paraíso”, “Lindo Vale”, “Campo Lindo”, “Paraíso”, “Flores”… A toponímia de um certo Porto é campestre e optimista.
As Arquitecturas deste cemitério formam um catálogo de estilos, exemplar para quem queira aprender pela observação um pouco mais sobre a História da Arquitectura (dos vivos). Neste pedaço da cidade (a parte que aos mortos pertence) temos tipologias várias: jazigo de família, campa rasa individual, unidades colectivas compostas de múltiplas gavetas, como em qualquer cidade (dos vivos) temos as correspondentes moradas em “prédio de rendimento”, “vivenda individual”, “bairro”. Os estilos, esses, são os mais variados dentro da mesma tipologia: surgem jazigos neo-góticos, neo-românicos, neo-clássicos, modernistas “Art-Déco”, modernistas estilo “estado novo”, “naturalistas”, ”simbolistas e monumentais”, etc… Resumindo: vale mesmo a pena passear por este lugar e percorrer os estilos arquitectónicos “todos” e todos no mesmo sítio. E com uma qualidade espantosa, talvez rara. (Talvez porque a especulação imobiliária de cemitério ainda não tenha chegado ao “roubo da qualidade”).
“Os Arquitectos”, fomos a maior parte educados no modernismo. E, em virtude desta educação, existe na classe um gosto dominante pelo Minimalismo típico dos cemitérios protestantes anglo-saxónicos, tipo “cemitério de guerra” minimal repetitivo, que faz ressaltar antes as qualidades do espaço “jardim”. “Preferiríamos uma cidade dos mortos tipo Brasília…” por oposição ao típico cemitério católico feito de múltiplas intervenções individuais e “individualistas” consideradas muitas vezes de gosto duvidoso… Como em geral nas nossas “cidades dos vivos”, aliás. Por mim, existe o direito à memória individual distinta e distintiva na “imagem” deixada pela última morada, independentemente da beleza ou não-beleza dessa imagem “urbana” do conjunto”. Mas cada um dirá se o prado do repouso é um bom lugar urbano nesta cidade para além de poder ser de futuro um bom lugar para morar (repousar).
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