De: Augusto Küttner de Magalhães - "O Douro ainda é o Douro, até em Outubro"
Ainda nos é possível passar um dia no Douro, sem fazer despesas excessivas, e apreciar a beleza que é termos este Património Mundial, cá dentro. Mesmo indo/vindo um dia, de automóvel, com o pé direito leve no acelerador, e almoçando em sítio em "conta" no Peso da Régua, podemos nestes primeiros dias de Outubro, em que até o clima nos tem pregado partidas, e o Verão está cá não tendo estado quando era a sua data, ver o Douro. e a sua beleza.
E podemos subir até ao Pinhão. Claro que desta não foi possível ir ao Douro Superior, mas ainda foi possível sentir o fim das vindimas, a beleza daquelas encostas, o Douro ali tão perto, uma beleza, bela, uma beleza que não será única, mas que é fantástica, e que não é aproveitada por todos e cada um como deveria ser. Cá dentro temos e somos muito maus, mas temos coisas tão boas, melhores que em outros locais, é só saber melhor aproveitar, tratar, cuidar... Sermos todos melhores... nós... não só os outros! Abstraindo, agora, o problema de quem cultiva e vive da vinha, do Vinho do Porto, que é um problema que tem décadas, e pelos mais diversos motivos, foi não sendo resolvido e em crise global, agravou-se e ainda pior irá ficar, contentemo-nos para já em ver esta beleza, tão nossa.
Ainda passam alguns pequenos camiões carregados de uvas, já poucos. Ainda se vêem circular cisternas, que por certo irão levar vinho para os armazéns em Gaia. Ainda se nota alguma azáfama do fim da vindima. Aproveitámos para apreciar junto a uma barragem entre a Régua e o Pinhão, sem nada pagar, a subida de um barco passando pela eclusa, e a descida de outro. Interessante, mesmo para os eternos lutadores contra as barragens, ver que de vez em quando o homem interfere na natureza positivamente, sem a destruir. Por norma faz o contrário, mas como o homem só está bem a destruir e a destruir os seus semelhantes, não é novidade. Mas tem tempos de excepção... Mas voltando à eclusa, tão interessante ver um barco a ficar dentro de quatro paredes, sendo que as duas extremidades abrem e fecham - nunca em simultâneo - para deixar entrar ou sair água, para o barco ser colocado ao nível da parte do rio que vai seguir, mais alto se sobre, mais baixo se desce. Tudo com calma, sem precipitações e com uma beleza "tão bela", tudo tão bonito, e depois lá vai um - barco - rio acima, outro rio abaixo, a serpentear a costa, pela água.
O ser humano por natureza, e isto é feio de se dizer, mas as verdades por vezes incomodam talvez por serem verdades, é mau, é egoísta, quer o bem para si e não se importa de atirar o mal para os outros, mas nestes momentos no Douro pode-se estar um pouco abstraído desses "males" e estar junto à beleza da natureza, e do que o homem não estragou, bem pelo contrário, ajudou a ficar melhor. A natureza deu-nos estes espaços - seja lá quem esteve por detrás disto aparecer!? -, mas sem o homem não haveria Vinho do Porto, Vinho do Douro e uma hipótese de podermos todos e cada um ver e estar junto a esta beleza. E o problema dos agricultores do Douro não se vai resolver enquanto cada um quiser "segurar" o seu pequeno quintal em vez de se unir para grandes quintais, que não terão que ser só de uma pequena meia dúzia de "já tão grandes". Enquanto os que querem no Douro continuar, em vez de contra tudo e todos e entre si próprios lutar, em vez de se unirem. Enquanto não houver de todos e de cada um mais bom senso, mais empenho em "estar num século XXI" tão difícil, tão complicado", nada se resolverá, tudo irá piorar. Enquanto nós seres humanos não quisermos deixar de ter temporadas de tanta selvajaria... não teremos tempo para ser civilizados e como tal, actuarmos... Mas o Douro vale, e faz-nos sentir bem... por um dia... por uma vida... por muitas vidas... está na mão de todos ajudar... ou não. Mas é tão belo o nosso Douro.