De: Pedro Figueiredo - "Hipocrisia nos comboios (saudades do PEC 4)"

Submetido por taf em Quarta, 2011-09-07 20:44

Comboio

Comboios é um tema recorrente aqui n'A Baixa. Peço desculpa às secretas que espiam este blog se estarei a provocar tumultos e revolta com esta intervenção. Obrigado.

1 – A Hipocrisia no TGV:
O PSD era tão visceralmente anti-TGV no tempo do diabólico Sócrates, mas com o Ministro espanhol ao lado e em modo conferência de imprensa internacional, “bom senso” oblige a calar o ex-anti-socratismo primário e apenas a “suspender o TGV”… Alguém terá percebido que nisto de Comboios as coisas só fazem sentido se existir uma “rede”, ou seja, se a partir de Lisboa se puder ir para além do Poceirão e no sentido inverso se para cá de Madrid os Espanhóis puderem vir aquém do Poceirão. O Poceirão deve ser uma terra fantástica, mas não tão fantástica como Lisboa ou Madrid ao nível da Rede de TGV… Às vezes parece que a direita visceralmente anti-TGV recupera o anti-europeismo, o isolacionismo e o anti-desenvolvimento típico desse desastroso (também) ministro das finanças chamado Salazar (não é do meu tempo). É que, apesar dos custos, o TGV faz sentido como rede… Eu conheço Franceses que atravessam a França num instante e muito jeito faz à economia um meio de transporte destes, empresários incluídos, Povo em geral também incluído… Não há dinheiro? Mas a economia vai ao charco se não se investe em ferrovia, seja de baixa, média ou alta velocidade… Tenho a certeza que se fosse apenas pelo PSD não haveria hoje Metro no Porto (investimento público, obrigado Dr. Fernando Gomes). Haja “olho” para o que significam as redes ferroviárias na Europa, esta incluída. A integração ferroviária faz parte da “integração europeia” que retira a península Ibérica do isolamento que já foi tempo… E não há low-cost que substitua um comboio de alta velocidade… em baixa poluição, em conforto, em organização em rede, em possibilidade de trabalhar enquanto se viaja, em não se “aterrar” a 50 Km do sítio onde se quer nem em ser obrigado a viajar em dias que só fazem jeito à empresa low-cost etc, etc,… hard-cost para os passageiros.

2 – A Privatização dos suburbanos:
Em Portugal só fazemos o que nos mandam, só executamos “o que está escrito”, os políticos são gente irresponsável que “não quer” as medidas de agressão que estão a executar, livremente auto-obrigaram-se a executá-las, e o FMI é Deus, e “o acordo” é a Bíblia, Salazar não faria um melhor Ditado… ”Está escrito” portanto a Privatização da CP. …Mas qual CêPê? Segundo o DN, a CP das seis CPs que existem com as suas seis administrações que ganham seis salários chorudos cada uma que vai ser privatizada… é a CP que dá lucro, muito lucro. É a CP Urbanos, portanto. A tal que transporta mais gente e é evidentemente muito rentável: Linhas de Sintra, Guimarães, Braga, Aveiro, etc… Assim, o país fica mais pobre, o Estado fica sem esta fonte de lucro, a dívida aumentará a breve prazo… (Mas os capitalistas que esperam lucrar com as privatizações que empobrecem o país ficam bem contentes, enquanto o Povo está avisado para “não fazer tumultos que nesta fase só empobrecem o país”). Um nojo que só apetece partir tudo na rua. Passos tem razão para ter medinho, de facto. Saudades do PEC 4.

3 – A caridadezinha do pseudo-passe social:
A cultura da “caridadezinha” está a fazer lastro na sociedade, agora com a Santa Casa da Misericórdia a comandar o Ministério das Esmolas (Santana Lopes). O novíssimo passe social baseia-se na declaração de 2010… 2010 foi um ano em que muitos da classe “média” ainda eram ricos. Eu conheço muitos destes ricos de 2010, agora desempregados em 2011. Eram falsos recibos verdes em 2010 e em 2011 não têm qualquer rendimento próprio porque o conluio Estado/Capitalismo impede esta imensa massa de gente à rasca de aceder sequer a um subsídio “entretanto”… Como estes eram “ricos“ em 2010, não terão qualquer esmola passe social em 2011: nem os desempregados de Janeiro 2011, nem os de Fevereiro 2011, nem os de Março 2011, nem os de Abril 2011, nem os de Maio 2011, nem os de Junho 2011, nem os de Julho 2011, nem os de Agosto 2011, nem os de Setembro 2011… saudades do PEC 4 (Em 15 de Outubro está marcada uma nova Manifestação - Revolução que é a “continuação” do 12 de Março, o dia de todos os precários. O Porto também está convidado a sair à rua, por muito que custe a quem está a agredir e incendiar o país com as suas “políticas tumultuosas”…)

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Nota de TAF: a fotografia é de Robert Capa na Guerra Civil Espanhola