De: José Machado de Castro - "Aeroporto do Porto: fim da ANA, começo de quê?"
O grupo Ferrovial vai ter de vender, nos próximos três meses, mais dois dos seis aeroportos do Reino Unido que ainda controla (Aberdeen, Edimburgo, Glasgow, Heathrow, Stansted e Southampton). Esta decisão da Comissão de Concorrência do Reino Unido segue-se à anterior ordem de venda do aeroporto londrino de Gatwick, entretanto concretizada em 2009.
A Ferrovial, grupo espanhol presidido por Rafael del Pino, adquiriu em 2006 a BAA (British Airway Authority) no processo de privatização daquela entidade gestora dos aeroportos britânicos. Não têm faltado críticas consistentes à gestão aeroportuária da Ferrovial: esta já tinha sido obrigada a encerrar alguns lojas do aeroporto de Heathrow, porque o crescimento desmesurado da área comercial estava a pôr em causa a segurança aero-portuária. Agora, a Comissão de Concorrência britânica invoca a falta de investimento da Ferrovial nas tecnologias que ajudam a ultrapassar as situações de neve nos aeroportos. A Ferrovial anunciou a eventual impugnação judicial de mais esta decisão da Comissão de Concorrência, mas o que é mais curioso é a justificação apresentada para não fazer as obras necessárias: “temos a responsabilidade de proteger o investimento dos nossos accionistas”.
Pois é, quando se privatiza a gestão dos aeroportos é a lógica do lucro dos accionistas que passa a comandar. Convém aliás lembrar que a Ferrovial já esteve a gerir outros aeroportos, vendendo as suas posições sempre que o interesse dos seus accionistas assim apontava: Bristol e Sidney foram vendidos em 2006 e 2007 à Macquarie (MAp), Belfast e Gatwick foram vendidos à Global Infra (do grupo ABN). Nápoles foi vendido em 2010 tendo sido entretanto comprado pela Ferrovial o aeroporto de Antofagasta, no Chile.
Vem tudo isto a propósito do anunciado desmantelamento da ANA, entidade pública gestora dos aeroportos portugueses. É sabido que PS, PSD e CDS/PP foram propor à sua querida troika a privatização da ANA. Tal operação não tem qualquer racionalidade económica ou social. A ANA, Aeroportos de Portugal, com sucessivos resultados positivos, tem vindo a transferir todos os anos umas dezenas de milhões de euros para o Orçamento do Estado, investiu 500 milhões de euros nos obras bem sucedidas do aeroporto do Porto, cobre o défice de exploração doutros aeroportos como o de Santa Maria nos Açores. Mas o fanatismo ideológico daqueles partidos suplanta o interesse público regional e nacional.
Se PSD, CDS/PP e PS tivessem em conta algumas das desastrosas experiências de privatização de aeroportos, talvez passassem a defender o que já há muito se impunha, a entrada de entidades públicas regionais (Junta Metropolitana do Porto ou outra) na gestão pública do Aeroporto do Porto. Mas o bom-senso parece não ter assento nas decisões dos partidos da troika. Entregar a gestão do Aeroporto do Porto a uma qualquer Ferrovial ou MAp (mesmo que sob a cobertura duma associação empresarial ou grupos económicos como a Sonae ou a Soares da Costa), privatizar os aeroportos é que é bom, mesmo bom, para certos accionistas, não é?
José Machado de Castro – deputado metropolitano do Porto pelo BE