De: Lurdes Lemos - "O Norte e a bitola europeia"
No início da passada semana o Ministro da Economia referiu na Comissão de Economia e Obras Públicas que “mais importante do que ter um comboio de alta velocidade é apostar na ferrovia de bitola europeia”.
Uma mudança de bitola pode alterar a imagem ferrovia na região Norte. Já há muito tempo que a renovação da via férrea a nível nacional está a ser feita com travessas monobloco de betão prevendo já uma adaptação para bitola europeia. Grande parte da extensão das linhas já electrificadas na região Norte permite já esta adaptação. O troço mais extenso em falta é o segmento Ovar-Devesas da Linha do Norte. Nas linhas não-electrificadas, onde geralmente o material ainda não foi substituído, a via está já bastante envelhecida, o que implica que os comboios circulem a velocidades mais baixas.
No caso de se implementar a bitola europeia a nível nacional estes troços em falta terão forçosamente de ser substituídos. Esta substituição e renovação da via férrea vai, consequentemente, permitir um aumento da velocidade até mais de 40% da velocidade actual, como já aconteceu nos 3 quilómetros de via entre Carvalha e Valença. A própria Linha de Guimarães, anteriormente de bitola métrica, poderá passar a permitir uma circulação ligeiramente mais rápida visto que a bitola ibérica é inadequada às curvaturas de raio reduzido (cerca de 200 metros contra os raios de curvatura mínimos de 300 metros da maior parte da restante rede), originando abrandamentos de velocidade.
Assim, uma mudança de bitola pode ser bastante proveitosa para a região, ficando aberto o caminho para a introdução de novos serviços de passageiros bem como para a electrificação dos dois troços restantes, nomeadamente de Nine até Valença, na Linha do Minho, e a partir de Caíde, na linha do Douro, onde esta substituição deverá incluir trabalhos de rebaixamento da via (em túneis, por exemplo) de modo a permitir instalação de catenária.
Resta a dúvida se a CP saberá tirar proveito desta alteração. Com as recentes electrificações da Linha da Beira Baixa e da ligação ferroviária a Évora a CP introduziu três Comboios Inter-Cidades diários para a Covilhã e quatro para Évora. Braga tem, de momento, 3 ligações Alfa e Guimarães uma em cada sentido. Na maior parte da Europa cidades de dimensão semelhante têm pelo menos uma ligação horária de formato IC. Com esta atitude, como pode o transporte público e colectivo tornar-se atraente e competitivo?
Cumprimentos
Lurdes Lemos