De: José Machado de Castro - "Ainda a propósito do fecho da linha férrea Porto-Vigo"
Esquerda, direita, cidades, territórios…
Há quem defenda que não se devem usar os vocábulos esquerda e direita, por já não não terem correspondência com a realidade ou outras alegadas razões. E apesar das reflexões tão estimulantes dum Norberto Bobbio, por exemplo, é também certo que “A Baixa do Porto” não é o espaço mais adequado para tal debate. Mas como tive o privilégio fantástico de poder viver intensamente o 25 de Abril de 1974, não posso deixar de referir que as vivências pessoais ajudam a perceber que há direitas e há esquerdas…
A direita, na versão extremista de Salazar e Caetano, ou em versões mais “actualizadas” tem os seus (des)valores: autoridade, ordem, nacionalismo, intolerância, centralismo… que deixam as suas marcas nas cidades e nos territórios. Os presidentes das Câmaras Municipais e até os regedores das freguesias nomeados pelo Terreiro do Paço. A participação cidadã era uma miragem, “uma pessoa - um voto” não era de fiar… A bitola ibérica na via férrea dava muito jeito, até para evitar o contágio da “decadente Europa”.
À esquerda, diversidade, cosmopolitismo, igualdade, participação, tolerância, valores que também marcam as cidades e os territórios: governos locais eleitos directamente pelos cidadãos, regionalização, ligação às redes europeias de transportes. E voltamos à cidade, não esquecendo os interessantes trabalhos de Richard Florida, da universidade de Toronto, sobre as 3 condições-base indispensáveis à afirmação das cidades e os territórios mega-regiões: Talento (que o Porto tem), Tecnologia (que o Porto também tem) e Tolerância - como são tratadas as pessoas de diferentes estilos de vida, raça, religião ou ideologia – (que os decisores do Porto, o seu poder local, não têm).
Concluindo: a distinção entre direita e esquerda ajuda-nos a conhecer melhor a realidade… e a nós próprios.