De: António Alves - "Mais erros estratégicos a caminho"
Com a necessidade imposta pela Troika em fazer cortes radicais na despesa do Estado tudo indica que se preparam novos encerramentos de vias férreas que poderão no seu somatório alcançar as oito centenas de quilómetros. A acontecer será mais um contributo para a aceleração da desertificação do interior induzida e amplificada pela desestruturação das redes de relacionamento entre localidades provocada pela eliminação deste modo de transporte colectivo.
A Norte teme-se o encerramento definitivo do troço Régua-Pocinho. Se essa violência for exercida coloca-se em causa o grande objectivo estratégico de voltar a ligar ferroviariamente o Porto a Salamanca e Madrid. Compromete-se assim de vez a exploração turística ferroviária do Douro, o transporte de mercadorias para a Europa aproveitando o grande nó logístico ibérico que é o triângulo Salamanca, Valladolid, Medina del Campo (a França prepara-se para introduzir severas restrições ao tráfego rodoviário pesado ibérico e a Região Norte não tem nenhuma ligação ferroviária internacional operacional). Também a exploração do Douro navegável para o transporte de mercadorias de Castela Interior para o Atlântico ficará comprometida. Recordo ainda que a Linha do Douro liga o Porto de Leixões a Leão, Castela e Região de Madrid. Além das potencialidades no transporte de mercadorias, e na possibilidade de transformar Leixões numa porta atlântica da Ibéria, o novel terminal de cruzeiros de Leixões teria muito a ganhar com uma ligação ferroviária de alto potencial turístico que o ligasse a Salamanca e Madrid.
Ainda na Região Norte, o encerramento do troço Régua-Pocinho elimina de vez a possibilidade de transformar a Linha do Tua numa porta de Trás-os-Montes para a alta velocidade espanhola em Sanábria. No Grande Porto, o troço Espinho-Sernada-Aveiro, também ameaçado, que atravessa uma região densamente povoada e muito industrializada, tem um enorme potencial para ser integrado no sistema de transporte ferroviário urbano do Porto que já se estende de Braga a Aveiro.