De: Alexandre Burmester - "Os Rios que nos separam"
Entre Porto e Gaia não há um, mas dois Rios que nos separam. Um deles de nome Douro, que deveria ser um factor de união como já o foi noutros tempos em que tinha outra utilidade para além de passear turistas, é hoje impedido de o fazer pela falta de obras de ligação, não há outra possibilidade de o transpor que não seja através das “pontes aéreas” existentes (Pontes do Infante e Arrábida). Outro de nome Rui, graças a Deus e ao contrário do primeiro não está cá para ficar, pela sua política tímida, insegura e fechada, agradeceria até que lhe pusessem muros a toda a volta da cidade, para não lhe perder o controlo.
Imagino o quanto lhe custa ouvir do Presidente do outro lado do Rio, que gostaria de fazer e até já tem um esquisso de projecto, para um túnel de ligação entre a Cantareira e a Afurada. E agora Rui? Mais uma porta na cidade para ter de controlar? Melhor será argumentar que o megalómano da outra margem, ao gastar dinheiro que não tem, vai perdendo pontos na possível candidatura ao teu lugar. (Como senão estivéssemos ainda hoje a pagar o dinheiro que não temos, por uma promessa que te levou à Câmara, por uma área que também não temos do Parque da Cidade que, em vez de verde, serve para boxes de automóveis, armazém a céu aberto do lixo da Câmara). Também se pode argumentar que o impacto de uma obra destas na Cantareira será como os famosos Molhes do Douro que, logo após um desenho correcto, para além de serem um excelente passeio até resolveram a navegabilidade da entrada do rio.
Deve ser estranho de pensar que a “Foz” possa ser devassada por aquela “gente” de Marrocos, lá do Canidelo, Afurada, Valadares e outros. Como se a Foz não fosse há muito devassada por toda a categoria de novos ricos que por lá se instalaram para prestigio social. Como se a Foz do Douro só pudesse existir numa das margens, a “chic”.
Quem dera termos o túnel e mais meia dúzia de pontes entre Porto e Gaia, quem dera termos uma cidade única com a mesma gestão e principalmente com uma política urbana. (Se o problema é dinheiro, podia-se ir cortar a última travessia feita no Tejo, daquela auto-estrada A10 que não serve para nada, e colocava-se por tramos no Douro).
Infelizmente que de Urbanismo já não se pode falar no Porto. O Rio (aquele que nos separa) tem um grave problema com esta matéria. O primeiro Vereador que teve despachou na primeira oportunidade. Nomeou um segundo, que confunde pressão com corrupção e que, de medo do papão, fugiu. Nomeou o terceiro que começou a aprender e a fazer urbanismo, fez-lhe sombra e rapidamente destituiu. Finalmente arranjou um Vereador que não faz nada nem aparece e assim já se pode tranquilizar garantindo o controlo pelas muralhas da cidade. As únicas obras destes 3 mandatos serão para a posteridade, para além de lavar a cara aos bairros sociais (como se alguma coisa mudasse), as obras da Av. da Boavista.
Aquela resma de sucata com toneladas de ferros de bancadas, grades e passagens aéreas, betões de guias e barracas de tendas, será sem sombra de dúvida a grande lembrança que teremos ao fim destes últimos anos. (Corridas ainda não vi nenhuma, aquilo é um passeio de velharias, é uma brincadeira antiga com um mau cenário actual.) De notar que esta Feira Popular é montada na melhor área da cidade numa altura que daria gosto passear junto ao mar e poder usufruir da sua vista, ao contrário temos de gramar com aquilo pelo período não de uma semana mas de todo um mês. (Mais o barulho e o cheiro a Castrol.)
É um favor que faziam, se colocavam um túnel para a outra margem (Gaia), ao menos por lá pode-se ir gozar o mar.
Alexandre Burmester