De: Alexandre Ferreira - "Movimento Partido do Norte - Causas e instrumentos"

Submetido por taf em Sexta, 2011-06-17 20:40

Nos últimos tempos tenho assistido com alguma perplexidade a algumas declarações neste blogue de pessoas que na forma pouco simpática como definem o MPN como projecto político. A perplexidade não se deve à discordância, normal e saudável em democracia, mas antes nos argumentos que aparentemente a fundamentam. Esses argumentos, que variam entre a dúvida acerca da clareza, capacidade de trabalho ou inteligência dos constituintes deste projecto político (gostaria de saber com que fundamentos), ou declarações contraditórias em que se defende no mesmo texto em que os problemas das várias regiões são todos iguais e que não deveremos ser exclusivistas, para logo de seguida defender que o Porto deverá ser concorrencial e que devermos ser solidários com a população da AML com os seus duros e pesados "custos de centralidade". O que não dariam os habitantes do Vale do Ave para terem de suportar tamanho fardo. Penso que tais diagnósticos são mais resultado de um desconhecimento dos fundamentos deste Movimento político (esclarecimentos pelonorte.blogspot.com) e sobretudo de uma percepção equivocada da realidade do País e da Região, tanto nas causas que levaram à situação actual, como nos instrumentos para alterar positivamente a situação.

Quanto às causas, além das motivos externos (OMC, euro..), grande parte da questão centra-se na organização centralizada e dissociada da realidade do Estado Português e na actuação dos partidos políticos existentes, que ignoram as necessidades e potencialidades de grande parte do território. Demonstrativo dessa situação é que apesar da Região Norte ser a mais populosa, a que representa o tal paradigma económico virtuoso tão exaltado nos últimos tempos de aposta nas exportações (região mais exportadora), equilíbrio na balança comercial (saldo positivo de 1600 milhões de euros ao contrário dos 21 000 milhões de euros negativos de Lisboa) e especialização nos bens transaccionáveis, o que se verifica é que nas últimas décadas assistiu-se a um desinvestimento vergonhoso por parte do Estado na Região, o que se substancia em investimentos per capita na Educação, Saúde e PIDDAC muito inferiores ao efectuado em Lisboa, em que no último o investimento a Norte chega a ser metade do efectuado nas imediações do Terreiro do Paço. Tal modus operandi, consequente ao longo de décadas e efectuado pelas variadas forças políticas, resulta que actualmente a Região Norte tem o rendimento per capita mais baixo de Portugal e a maior taxa de desemprego. Esta actuação danosa e que se estende a outras áreas (vide AFSC, Leixões, Reabilitação Urbana, fuga de empresas e bancos, etc) tem tido o beneplácito e a conivência silenciosa de todos os partidos do espectro político, sem excepção.

Neste momento chegamos aos instrumentos ao nosso dispor para contrariar esta situação que se tem prolongado à demasiado tempo. Visto que as actuais forças políticas repetidamente têm ignorado e sobretudo desprezado os anseios e direitos básicos de equidade da população do Norte de Portugal, chegou o momento da Região Norte se afirmar da forma mais elevada e adequada numa democracia que se preze, que é constituir uma força política que trave nos locais apropriados a luta pelos interesses do Norte. Dessa urgência e necessidade inadiável surgiu o Movimento Partido do Norte que, congregando pessoas de diferentes correntes políticas, tem como fulcro garantir que o Norte e a sua população sejam defendidos e que esta Região, maior do que muitos países europeus, possa traçar um rumo de crescimento e progresso, que a eleve e ao País, sem cedências a directórios centrais ou a interesses parasitários do Estado.

Para finalizar, gostaria só de recordar que, na Europa, o mais comum são partidos regionais e que eles foram fundamentais na afirmação económica, social e cultural das respectivas regiões, como o caso paradigmático da Catalunha, onde apenas após a instauração da Democracia e a constituição de partidos regionais que garantiram a defesa da Região no Parlamento Nacional é que esta iniciou o seu crescimento e afirmação no plano nacional e internacional que tanto admiramos e tão antagónico ao que temos assistido dentro de portas. Deixar tal tarefa a terceiros que repetidamente nos têm defraudado, o destino político da Região, parece-me que além de ser um estranho sintoma de menorização, como se fossemos incapazes de ter as qualidades próprias de empenho, decisão e pensamento necessárias, será mais do tudo uma forma de garantir que nada muda e que o declínio é um destino traçado que não depende de nós.