De: Luís de Sousa - "Oportuno na Ausência"
O último post com que o Tiago nos presenteou, “Na Foz”, é na minha opinião bastante oportuno pois retrata "por ausência" um edifício transparente que se encontrava à direita, num ângulo impossível de captar com a objectiva da sua máquina, do local que fotografou. O sentido de oportunidade prende-se com a discussão que temos aqui alimentado acerca da importância do programa em obras de arquitectura e urbanismo, matéria na qual o edifício projectado pelo arquitecto Solá-Morales é um "case study". Não duvido que muitos não se deixariam antecipar em crucificar o arquitecto catalão, pela aparente falta de função do dito edifício, sem se preocuparem com a existência ou até com o conteúdo do programa proposto pelo promotor para o edifício. É fácil demais criticar os arquitectos, até porque se eles fizerem greve o povo até agradece, já que algum "esperto saloio", como diz e bem o Pedro Aroso, logo trata de fazer o rabisco ou assinar de cruz um projecto de um habilidoso do desenho. Só que os grandes culpados desta triste realidade somos todos nós, cidadãos, que ao longo dos anos relegamos para segundo e terceiro plano a qualidade dos nossos espaços públicos e até privados. Alguns por ignorância ou por ganância rotularam os arquitectos de supérfluos, maneiristas e até burlões pela cobrança de honorários pelo exercício da sua profissão. Confundem construção com arquitectura, e continuam a achar que não precisam de arquitectos para a concepção das suas casas, locais de trabalho e cidades no geral.
Aos arquitectos cabe, para além de projectar, persuadir e também educar este povo que, como alguém disse durante as invasões francesas, não se governa por não saber e não se deixa governar por achar que sabe.
Cumprimentos
Luis Sousa
--
Nota da TAF: ei-lo, na mesma altura, do mesmo local. :-)