De: Ricardo Fernandes - "Do valor da árvore"
Não poderia deixar em claro um parágrafo em jeito de resposta ao texto Correia de Araújo - "Ver apenas a árvore...". É certo que o cerne do mesmo chama a necessidade de uma visão holística da cidade e de uma certa leviandade no momento de construir novas infraestruturas ou proceder a alterações. A meu ver, a demasiada leveza com que essas acções tomadas levaram à completa desorganização e delapidação do espaço a que tanto o Professor Fernando Távora se referia. Exemplo é a des/organização do território dos concelhos em volta do Porto que o autor do texto elogia pela sua "liberdade" de intervenção. Uma herança que teve o seu auge nos anos 80 em que se fazia primeiro e depois via-se. Bom, e hoje vê-se. Falando em árvores e floresta, o pensamento de resposta a um presente fugaz plantou "florestas" de pinheiros e eucaliptos em nome do progresso. E não desvalorizemos a árvore per si, visto esta mesma possuir um sistema complexo de organização e correlação entre elas que bem pode servir de exemplo à floresta (leia-se cidade).
A intervenção numa cidade consolidada deve ser ponderada, correndo o risco de se tornar ridícula (ou pior, quando danosa) até mesmo a curto prazo. Senão veja-se a diferença da pertinência entre o Funicular dos Guindais e o Teleférico no Cais de Gaia. Apesar de ambos servirem para vencer a cota acentuada do vale, o primeiro encontra-se inserido numa rede de transportes servindo quer a população residente quer turistas; enquanto que a própria evolução solavancada, preços incomportáveis do segundo denotam claramente o seu cariz porventura supérfluo.
A valorização da participação activa dos cidadãos no espaço em que estes vivem foi um dos pontos conquistados com o 25 de Abril, em vez da nostalgia e quase letargia com que este dia é relembrado e celebrado.