De: Pedro Aroso - "Disneymentes"
Embora tenha prometido a mim mesmo não perder mais tempo a comentar disparates, há casos em que, por imperativo de consciência, não posso ficar calado. Vem isto a propósito de um post do jovem Pedro Figueiredo em que este critica, de forma arrogante e despudorada, obras de dois arquitectos por quem tenho a maior amizade, estima e admiração e que, pelo seu percurso profissional, deveriam merecer o respeito de alguém que se diz arquitecto, mas que provavelmente não tem uma única obra para mostrar aos amigos. Mais importante do que ter o canudo, é ter obra. Mies van der Rohe, Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, por exemplo, nunca tiraram o curso de Arquitectura e, no entanto, fazem parte da lista dos melhores e mais influentes arquitectos do século XX.
1. Concordo consigo em relação às considerações que faz sobre o Shopping Bom Sucesso. O projecto foi assinado por um destacado militante da UDP (actual Bloco de Esquerda) dos anos 70, meu colega de curso mas, tanto quanto julgo saber, é da autoria de um arquitecto brasileiro. O Dr. Fernando Gomes nunca deveria ter aprovado aquele pastelão pseudo pós-modernista.
2. O “Edifício Disneylândia”, como lhe chama, aprovado no tempo do Eng. Nuno Cardoso, foi projectado pelos descendentes do Arq. Morais Soares (filho e netos), um dos co-autores do Mercado do Bom Sucesso, de que o Pedro Figueiredo tanto gosta. Pessoalmente confesso que prefiro a integração por contraste, como acontece com a Faculdade de Arquitectura do Porto, projectada por Álvaro Siza. O próprio Siza não partiu do zero, uma vez que a ideia de fragmentar o edifício foi clonada a partir da silhueta do troço da Rua do Campo Alegre, onde proliferam os conhecidos prédios do Arq. Agostinho Ricca. No entanto, a integração por mimetismo é legítima e, sem dúvida alguma, mais consensual. Classificar aquele conjunto de “gosto salazarista” é, no mínimo, um acto leviano e de muito mau gosto. Como não sou daltónico e até aprecio os amarelos e rosas pastel da Ribeira, não me incomoda absolutamente nada ver esses tons naquele empreendimento que alia, de forma muito inteligente, a tradição com novos materiais e novas tecnologias.
3. Em relação ao Rogério Cavaca, outro amigo que tão mal tratado tem sido aqui na “Baixa”, sugiro-lhe que estude as suas obras (sobretudo algumas ligadas a cooperativas), com fortes reminiscências Art Dèco, que nos anos 80 foram uma inesgotável fonte de inspiração para os arquitectos da minha geração. Já que estamos a falar da encosta direita do Douro, recomendo-lhe vivamente uma visita ao “Teatro do Campo Alegre - Seiva Trupe”, na minha opinião um dos seus projectos mais emblemáticos.