De: Pedro Figueiredo - "Habitação a Custos Descontrolados?"
1. Estas são imagens “sacadas ilegalmente” do blog vizinho SSRU (obrigado SSRU) e da sua magnífica intervenção de guerrilha urbana no interior do novíssimo edifício que está a surgir nas Cardosas… ”Tripas á moda do Porto” ou Quarteirão esventrado… Deixemos entretanto suspensas entre parêntesis a “ideologia” e a ”política” que parecem prejudicar o debate d'A Baixa do Porto. Ficam suspensas as ideologias (Marxismo, Social–Democracia, Liberalismo, Conservadorismo de pendor Autoritário e Católico vulgo Fascismo). Também ficam suspensas as “classes” baixa, média e rica. Agora é só “mais abastada”, “com menos condições sócio-económicas” e ”em vias de enriquecimento”. Concentremo-nos na Arquitectura, portanto.
2. O Contrário de Habitação a Custos Controlados é Habitação a Custos Descontrolados? …Mas será que os custos destas habitações SRU são mesmo “descontrolados”?... Ou os preços de venda é que (me) parecem descontrolados? Sinceramente, alguém da SRU poderia responder-me, “descascando” o preço de venda final em parcelas que tornem mais racional à minha vista a maneira como este foi calculado? Xis de material + xis de mão de obra + xis de lucro + xis de demolições, etc… Sobretudo parece que a principal despesa de Obra é a Demolição e o transporte de entulho… (Que em geral é de facto tida como despesa não desprezável, é verdade…)
3. Se o T2 que eu “aluguei por 30 anos” ao BPI é considerado “central“ – Marquês – e custa-me 1000 euros o m2 nesta zona que as imobiliárias já consideram “abusivamente” Baixa e “perto de tudo”, e é construido com estrutura de betão, lajes aligeiradas e construção corrente, porque é que na Baixa SRU, o mesmo sistema… custa o dobro…? Porque é que custa o dobro, quando – ver imagens SSRU – por trás das fachadas de pedra surgem habitações de construção nova – sistema pilar e viga em betão, lajes aligeiradas, caixilharias em alumínio ou PVC e placagens de granito barato a imitar molduras em “pedra estrutural” (Quarteirão do Corpo da guarda - Cooperativa SACHE)...? Exactamente o mesmo sistema construtivo que nos vendem a 1000 euros o m2… também na “Baixa”… Ah, já sei… vão-me dizer a seguir que estes vão ter acabamentos de luxo… jacuzzi, etc… Ok, ok, eu calo-me… sou “tal chato” e tenho preconceitos marxistas…
4. A intervenção da brigada SAAL/CRUARB liderada pelo Arq.º Fernando Távora em Miragaia consta da reabilitação de 900 habitações, conforme dados da CMP. Tanto quanto julgo saber é um exemplo de verdadeira Reabilitação. Não só se mantiveram as fachadas, como a verdadeira “re–habilitação” dos seus interiores deverá ter sido feita… Ou seja: recupera aqui, constrói novo acolá, substitui e melhora estas caixilharias, mantém aquelas, recupera algumas escadas em madeira ou tectos em masseira, lanternins… Mas, se se demonstrar o mais correcto, também se substitui por betão e tijolo certas partes… ou não, mantendo-se os tabiques em parte, etc... Reabilitar é assim uma sucessão nem sempre contínua de actos “casuísticos”, mas informados… caso a caso… Não é fácil reabilitar… ninguém disse que ía ser fácil...
- Em Restauro, estamos perante o preço máximo: usar os métodos construtivos originais para obter os resultados originais.
- Em Reabilitação, estamos perante o preço médio: misturar técnicas adaptadas para re-habilitar o edificado.
- Em Construção Nova, estamos perante o preço mais baixo: aos nossos empreiteiros, toda a gente sabe, fazer em betão, tijolo e alumínio consiste na construção mais corrente e a mais barata. E é a que estão a fazer por trás das fachadas de pedra. Ver fotos SSRU…
Então… a questão, outra vez: de onde vem o preço de venda de 2000 euros por m2?
5. Imagino que a SRU do Porto seja um modelo experimental para o relançamento da construção a que teremos de dar o nome de “Reabilitação”, de tão repetida a palavra “Reabilitação”... Desde o meu partido extremo-esquerdo até ao Sector Imobiliário que finalmente vê – e bem – a Reabilitação como a única hipótese de se safar e de nos safar da nossa bolha imobiliária dos anos 80-90 que já rebentou em cerca de 1 milhão e meio de casas novas por vender em Portugal, com os Centros Históricos a precisar tanto… Era tão óbvio e só agora é que viram? Oh, a Imobiliária, um sector sempre tão (pouco) ”flexível” e pouco imaginativo…! Do qual dependemos, também, os arquitectos para termos trabalho… A ideia vai ser também a de aplicar ao sector “Reabilitação” o mesmíssimo modelo que estourou a Construção Nova…? Claro que é mais fácil (e barato) demolir os tectos em masseira, os lanternins, os tabiques, as escadas… mas porque lhe chamam Reabilitação? E a gente acredita? O Arq.º Fernando Távora - que levou Guimarães e o Porto a Património da Humanidade - rasgaria com certeza as suas vestes… Mas com a elevação que lhe seria característica.
6. Mas as pessoas com capacidade económica quererão elas vir mesmo para a Baixa? Existem estudos de mercado que suportam uma vontade destas pessoas que conseguem pagar 2000 euros por m2 em virem morar para a Baixa, onde o congestionamento é uma realidade, os passeios não têm árvores e não há lugar para um pátio privado ou jardim como nas casas de família que ocupam nas periferias abastadas?… Apesar destas casas custarem 2000 euros por m2? …O que é que eu faria se pudesse dar 2000 euros por cada m2? Escolheria o Centro Histórico, ou manter-me-ía em Miramar, na Foz, Campo Alegre ou Leça? Até que ponto a mentalidade de periferia já fez ”cultura”, mesmo para as famílias mais abastadas, determinando que a ocupação prevista para os quarteirões SRU – ainda assim – venha a ser difícil? (flop flop?) Alguém sabe? Alguém estudou?
7. Há sempre uma solução “Rápida, Fácil… e Errada”, dizia outro dia na Antena Um o nosso jornalista Carlos Magno, citando Carlos Amaral Dias. Pois com certeza, é a solução rápida (!), fácil e errada de Rui Rio para “reabilitar” o Porto… Só que custa 2000 euros o metro quadrado…