De: Cristina Santos - "Preços, Economia, Baixa e a Casa da Mariquinhas"
Os valores dos prédios reabilitados na Baixa não configuram um problema ético-moral, mas sim um problema económico de um país com custos de produção altos, em que quem produz não aufere para adquirir. O que significa, em termos gerais, que os custos significativos de produção não estão imputados à mão-de-obra. Tal situação, a revestir alguma questão moral, teria que ver com o Estado.
Os custos do Estado Social não podem de forma alguma aumentar, seria como se uma instituição sem fins lucrativos gastasse mais com os custos da sua equipa que com os apoios concedidos. A gratuitidade é cara. Resta o mercado, no entanto, e face ao imposto, taxas, burocracias e ineficiências os investidores não têm margem para criar sustentabilidade social no seio das suas próprias organizações, quanto mais filantropia. E este é o estado do país.
Com certeza que os investidores da Baixa efectuaram o enquadramento do projecto nestas circunstâncias e concluíram existir mercado. A questão é a fatia de mercado que resta. E portanto mais uma vez não é um questão de moral, mas sim de estratégia. Ou se abre a Baixa ao mercado alargado Europeu, com brand e internacionalização, ou com certeza não há mercado.
E não se pode abrir ao mercado internacional quando mais-valias como Teatro de São João estão ao momento a ser postas em causa, e não se incentivam condições de atractividade com oferta estudada e estrategicamente posicionada para a internacionalização. E não se pode diferenciar o produto rebentando a bolha da Unesco. A menos que agora as réplicas de Da Vinci possam ser historicamente validadas como originais. Sugiro a este propósito a revisitação do tema "Dar de beber à dor" na voz de Ana Moura e Zé Pato. Desculpem, é que sem posicionamento estratégico não há nada a discutir. Não sabemos bem para onde ir, o que queremos e o que devemos oferecer, em matéria de produto diferenciado.
Se é pelas réplicas, vamos pelas réplicas, há mercado para réplicas? Mas que boa visão de longo prazo e de sustentabilidade também. "As janelas tão garridas que ficavam, com cortinados de chita às pintinhas, perderam de todo a graça, porque é hoje uma vidraça, com cercadura de lata às voltinhas..."
Cristina Santos