De: Daniel Rodrigues - "Re: «Da Ilha ao Plano de Melhoramentos...»"
Caríssimo Pedro Figueiredo,
É uma canseira a repetição dos estafados clichés de "Direita", "Esquerda", "Capitalismo" e afins. Ao ler a sua resenha histórica e as conclusões tão mistificadas e partidarizadas (vide o brilhantismo de um SAAL "revolucionário", e o "fascista" plano de melhoramentos, um "intolerável", outro afinal tão só "propaganda"), fico com a sensação que, mesmo estando eu um pouco distanciado da problemática, é tão só "propaganda" em sentido contrário.
Mas não é esta a razão que me leva a escrever. História é história, estórias são passado: essenciais para aprender os erros, mas absolutamente inúteis para promover rancores. A razão pela qual a si me dirijo é tão somente para comentar esta magnífica conclusão: "Reservado para Ricos. Basta ver os preços." Ora, a meu ver a solução é simples: contrate V.E. um advogado, procure os herdeiros dos prédios na Baixa, resolva os conflitos, faça as obras necessárias, a promoção imobiliária necessária, e habite, alugue, venda, aos preços que considerar justos, com a filosofia que considerar mais adequada. Se não tem dinheiro suficiente, crie um fundo, uma corporação, um sindicato, uma empresa com essa missão, junte aqueles que partilham a sua filosofia. Afinal, não é a união que faz a força?
Passado esse desafio mais pessoal, lanço-lhe um outro, bem mais abstracto mas não menos importante, que considero essencial para fazer uma leitura adequada dos seus textos: o que é a classe baixa, média, e o que as distingue das classes altas? A distinção é feita tendo como base o salário? O nível cultural? Os desejos e objectivos de cada pessoa? Pela profissão? Pela influência? Partilha V.E. a visão de uma conhecida jornalista de Lisboa, que define a margem Baixa/Média pela utilização de uma "empregada doméstica"?
Sinceramente, cansa ouvir repetida a ladainha de sempre, de quão boa a "Esquerda" (o que quer que isso seja) é, e fez, e faz acontecer, e quão lamentável é a "Direita" (o que quer que isso seja), e as inutilidades que realizou, realiza ou pretende realizar. Em vez de escrever, realize e faça acontecer. Mude-se para a Baixa. Crie laços com os vizinhos, sejam estes Ricos ou Pobres. Infelizmente, e nos próximos tempos, ainda haverá muitos Pobres e muitos miseráveis na Baixa. Ao lado das casas dos Ricos, estarão prédios degradados, fruto de anos de status quo. Possa pelo menos existir a convivência de espírito entre todas as classes, e atrás virá o desejo de melhorar economicamente. Permitirá, então, uma genuína, adequada e merecida redistribuição de riqueza.
Se está preocupado que os Ricos venham a acompanhar a Baixa, veja o lado positivo: estes vão sair de algum lado, e quiçá, teremos Pobres a alugarem a preços baixos vivendas na Foz e apartamentos em Nevogilde. Fico a aguardar a pungente descrição sobre o quão longe e destruídas ficarão essas famílias, saídas do centro histórico, onde desfrutavam do pôr-do-sol, e onde agora apenas têm pinheiros mansos e bons transportes públicos a preencher os seus dia-a-dia.
Melhores cumprimentos,
Daniel Rodrigues
PS: Se o investimento no centro histórico conduzirá inevitavelmente, pela pressão de preços, a ser ocupado sobretudo com apartamentos de aluguer destinados ao turismo, ou pequenas residenciais, há, nas áreas circundantes como Fontainhas, Santo Ildefonso, Bonfim, Lapa, Cedofeita, excepcionais oportunidades para as classes Baixa, Média, Alta e intermédias. Queiram estas sair da Foz, Nevogilde, Matosinhos, Maia, Gaia, Gondomar.