De: Movimento Mercado do Bom Sucesso Vivo - "Comunicado"
O Movimento "Mercado do Bom Sucesso Vivo" vem expressar a sua preocupação pelas recentes notícias referentes à tentativa de parceria entre a Câmara do Porto e a empresa Eusébios de transformação do Mercado do Bom Sucesso em Centro Comercial, Hotel e Estacionamento.
Congratulamo-nos com o facto de ambas as partes não terem até à data, afinal, assinado qualquer contrato de concessão. Congratulamo-nos com o facto de o negócio que resultaria na expulsão da quase totalidade das e dos actuais comerciantes do mercado e na destruição do magnífico espaço interior do edifício, não avançar num horizonte próximo, a confiar nas palavras do vereador Sampaio Pimentel.
Preocupamo-nos porque, se a empresa interessada na exploração do edifício está em dificuldades e tem, muito provavelmente, ela própria as suas dúvidas sobre o êxito do empreendimento, a obrigação da Câmara é defender o interesse público. As lojas dos centros comerciais da zona estão em grande parte abandonadas, há oferta hoteleira mais que suficiente, há parques de estacionamentos. O que faz falta é dinamizar o comércio de proximidade, nesse está o futuro. O Movimento "Mercado do Bom Sucesso Vivo" expressa assim o seu desagrado e a sua revolta face à forma como uma questão tão importante para a cidade do Porto está a ser "olimpicamente" ignorada pelos organismos públicos, quer Ministério da Cultura / IGESPAR quer pela Câmara do Porto:
1 - De facto, o Movimento tem visto os seus pedidos de audiência em sede de reunião com o IGESPAR sistematicamente ignorados/adiados, como se a preservação deste Património Arquitectónico Modernista com processo de classificação em curso não tenha importância que tem: toda a prioridade numa cidade classificada como património da humanidade e com um conjunto de edifícios Modernistas de reconhecida qualidade.
2 - Por outro lado, a Câmara Municipal do Porto, parceira da construtora Eusébios neste negócio, tem vindo a "expressar" um silêncio ensurdecedor sobre este assunto. Este silêncio que envergonha a cidade, envergonha este Movimento e deixa as e os comerciantes sem qualquer interlocutor sobre o seu futuro... Estas afirmações (por escrito) do Vereador Sampaio Pimentel são, em dois anos, praticamente a única informação pública sobre o negócio. Julgamos que as declarações do vereador não chegam ainda para quebrar a muralha de silêncio com que a Câmara se impõe a um assunto de interesse público e que neste caso prejudicam uma classe.
A avançar, o negócio proposto deixa as e os pequenos comerciantes do Mercado do Bom Sucesso sem qualquer direito a indemnização. O Porto ficaria sem mais este Mercado de frescos, numa altura de crise em que os alimentos básicos, fruta, legumes frescos, etc... são uma barata, óptima e saudável alternativa à má alimentação praticada nos mais "variados" Centros Comerciais. O adiamento deste negócio é feito pelos piores motivos. O vereador Sampaio Pimentel, tomando a palavra pela empresa Eusébios declara ser a Crise o motivo do adiamento da destruição anunciada do mercado. O Movimento mostra-se apreensivo pois as intenções de adulteração e shoppingcenterização da cidade parece que vão continuar, não havendo, por agora, qualquer preocupação com os interesses da cidade e do pequeno comércio. Supomos que, mal haja dinheiro para investir ou a crise acabe, a negociata entre a Câmara e a Eusébios possa ter luz verde para avançar. O que não nos faz baixar os braços.
Queremos no entanto que haja "um segundo acto" para esta peça. O Movimento "Mercado do Bom Sucesso Vivo" afirma que a solução para o Mercado do Bom Sucesso tem de passar forçosamente pela manutenção da propriedade pública do imóvel, sem qualquer concessão aos interesses imobiliários; o edifício necessita de obras de reabilitação que nada têm a ver com a sua transformação e adulteração para outro tipo de programa. A Câmara do Porto tem como responsabilidade reabilitar o edifício e fazer desenvolver o serviço que o mercado faz à comunidade, com todos os meios e vontades de que dispõe. A gestão do espaço, a sua reabilitação física, humana e o seu futuro poderão passar por uma cedência da sua gestão e co-responsabilidade aos próprios comerciantes. Este movimento conta com a subscrição de um número alargado de cidadãos e de Arquitectos desta cidade.
Pelo "Mercado do Bom Sucesso Vivo":
Paula Sequeiros
Pedro Figueiredo
Fernando Sá
Porto, 22 de Novembro de 2010