De: José Silva - "O vício das obras e o estado de negação sobre a sua utilidade"

Submetido por taf em Terça, 2010-11-02 22:19

O magnífico texto de Pedro Figueiredo mostra quanto errada está a mentalidade de todos nós relativamente à construção civil e obras públicas. Desde o governo com as suas obras coloniais à volta de Lisboa até aos autarcas portuenses: o de Gaia, o do Porto com o seu proposto novo pavilhão de congressos ao lado de 3 existentes (Palácio de Cristal, Alfândega, Seminário de Vilar) e o de Matosinhos, com a construção de um centro tecnológico em cima do molhe do porto de Leixões. Também a UP/FEUP confunde a criação de emprego, valor acrescentado, novos projectos sustentáveis com a construção de edifícios. É natural. Na FEUP, desde que deixou de ter vocação tecnológica e passou a envolver-se em «empreendedorismos e afins», até charlatães procurados pela PJ dão (ou deram) lá palestras. Poderia falar do inútil metro para a Trofa que nem a actual presidente da autarquia quer, ou no actual plano nacional de barragens que apenas serve para tornar rentável o mau investimento nas eólicas. Mas não vale a pena.

O que se passa é que o sector da construção civil e obras públicas tem em Portugal um peso no PIB 50% acima média da UE. Portanto há excesso de operadores no mercado que buscam encomendas decrescentes devido ao stock acumulado de obras / edifícios / construções / infra-estruturas e também devido à conjuntura financeira. Se a este cenário de stress acrescido juntarmos as comissões que naturalmente se praticam entre compradores, vendedores e facilitadores, chegamos facilmente a obras/projectos mal pensados, desnecessários e insustentáveis como Pedro Figueiredo relata. Depois o custo de exploração ou as externalidades negativas de tanto património público e privado dão cabo da rentabilidade das famílias, empresas e organismos do Estado. Isto obviamente explica porque é que o Estado está como está e porque vai ficar pior quando chegar o FMI ou afins. Obviamente que andamos todos viciados em obras e ignoramos as consequências da sua insustentabilidade. Para último fica sempre a reabilitação do economicamente viável. Mais um caso: Requiem pela linha de Leixões.