De: Pulido Valente - "Caro Pedro Figueiredo"
Há muito tempo que acompanho as tuas entradas neste blog sempre com satisfação por haver alguém que diz o mesmo que eu penso. Para além, claro, daquilo que te é próprio mas com o qual não discordo quando não é propaganda do teu partido.
Hoje preciso de arengar.
O caso do projecto do Rogério Cavaca na marginal foi comentado por ti partindo de pressupostos que de modo algum posso deixar sem comentar e tentar corrigir. Criticas a CMP por deixar construir ali quando devias criticar por deixar construir aquilo. Partes do principio de que não há nada que inventar e há que aplicar mais do mesmo. Isto é o estafado caixote de quatro frentes, esquerdo direito ou com galeria. Errado. Ao arquitecto é exigido que com um terreno qualquer INVENTE solução de arquitectura. E não que recorra à memória do computador e faça o mesmo que tem feito sempre sem pesquisar e progredir.
Se porventura a solução não cumprir com o esquema financeiro (ganancioso) do investidor, da maneira única que ele sabe, o que o arquitecto tem a fazer é dizer que o que lhe encomendaram foi um projecto de arquitectura e não um processo de licenciamento que utilize toda a capacidade construtiva que o PDM permite. Não esquecer que os valores permitidos são máximos e nada impede que se faça menos a não ser a suposta ganância. Suposta porque há maneiras de gerir a economia do processo de modo muito satisfatório (tanto mais num sítio deste com arroubos de luxo).
Portanto, amigo, o arquitecto NÃO pode servir para aprovar processos de licenciamento que nada têm a ver com arquitectura. Nisso tens razão: aquilo (e tudo o mais que tem vindo a ser feito, mesmo os prédios do Álvaro e do Eduardo) não é arquitectura, é um vestido que conserva a velha solução de galeria mas com gravíssimas implicações e que a CMP devia ter impedido que fosse construído se soubesse o que deve fazer para gerir a cidade.
Fica a saber que a galeria que imaginas ligar os vários fogos retira a segunda frente dos fogos do meio (são quatro: dois nas pontas e dois na galeria). Deste modo dos quatro dois são fogos de uma frente. Quanto aos das pontas têm os serviços virados para o enorme talude (não é precipício) e as salas de jantar também mas com o artifício de estarem ligadas às salas de modo a que se diga que está tudo a Sul e a janela a Norte é só para cumprir regulamento.
Lamento que ninguém se lembre que há maneiras de fazer arquitectura que, contrariando à primeira vista a ganância, permitiriam construir ali fogos espectaculares sem quaisquer inconvenientes sanitários ou outros e com grande potencial económico. Onde estão os espaços exteriores privativos daqueles fogos? Se uma solução desse amplos terraços em frente a cada fogo todo ele virado para Sul (sem ser ilha como é no caso de que falamos) não seria possível gastar menos dinheiro na construção e vender mais caro menos fogos? Afinal é luxo, não é?
Não se deve permitir que se faça o máximo de construção o mais barato possível para o mercado previsto.
"Salut"
JPV