De: Nuno Oliveira - "Mau desenho urbano e má mobilidade urbana são coisas diferentes"
Caro Alexandre Burmester,
Argumenta que as bicicletas complicam o trânsito mas o espaço transformado foi para peões e utilizadores de bicicleta e o transporte público está salvaguardado. O único tipo de trânsito que obstruem é o automóvel, que é o menos prioritário nas cidades por motivos óbvios. Os outros também constituem trânsito, até um burro que come palha é trânsito. Se houver eléctrico, pode-se retirar algum espaço aos automóveis, o que é natural se queremos encorajar o seu uso e bom funcionamento. Interessa optar pelos tipos de trânsito mais eficientes em termos de ocupação e vivência do espaço, energia, segurança, qualidade visual e do ar, etcetera. Parece-me uma escolha natural de prioridades.
Os horríveis "tubinhos", tapetes betuminosos, sinalética e outra parafernália poluem visualmente e fragmentam o espaço, concordo absolutamente - vamos fazer por melhorar. Agora, por uma questão de equilíbrio e coerência, convidava também à reflexão no futuro sobre a poluição visual e perda de qualidade do espaço público causada por centenas de carros estacionados em plena marginal ao lado da Alfândega, por carros a interromper o percurso do Eléctrico 1 frequentemente e no facto da maior parte do espaço entre a frente construída junto ao rio e mar na cidade do Porto ser ocupado por faixas viárias percorridas na esmagadora maioria por carros (arrisco: 70%?).
É que não se trata do politicamente correcto, mas o economicamente, saudavelmente, energeticamente e "urbanamente" correcto. Que o provem os membros de várias alas políticas por essa Europa fora que circulam diariamente naquilo que é apenas um mundano meio de transporte, não um manifesto ideológico. Refere também que "nós ("eu"?) pagamos e não usufruímos", e compreendo-o bem. Também paguei a maior rede de auto-estradas de todo o mundo (que orgulho!) e não usufruo dela, como também pago a manutenção monumental da maior parte do espaço público das todas as cidades que é ocupado gratuitamente por indivíduos no seu carro privativo, pelos danos nos passeios, fiscalização, segurança, poluição, e por aí fora. Por isso aceito humildemente que me ofereçam em troca a esmola de 1,2m roubados à estrada durante um punhado de quilómetros junto ao mar.
Não me recordo de nenhum ditado de momento.
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Nuno Oliveira