De: Miguel Barbot - "Passadeiras com avisos a peões II"

Submetido por taf em Domingo, 2010-09-19 23:04

A propósito do último posto do Augusto Küttner de Magalhães, recomendo esta leitura no Menos um Carro, que passo a transcrever

"O lóbi do popó lança hoje uma campanha, ironicamente começando no Porto e com o vergonhoso apoio das Câmaras, da PSP e a ANSR, que quer sensibilizar os peões a terem cuidado a atravessarem a rua. Não há uma única menção de sensibilização dos condutores (que em Portugal são mais protegidos do que no Norte da Europa no caso de atropelamentos).

Centrar a sensibilização e a repressão nas potenciais vítimas é exatamente o raciocínio que seguem os extremistas islâmicos que defendem o uso de véus e burkas para que as mulheres não sejam violadas (...) se Portugal tem dos piores registos em termos de atropelamentos de crianças, e sendo que as crianças são inconscientes em qualquer parte do mundo, o nosso problema não está certamente no comportamento dos peões."

e no Simply Commuting:

"O senhor Carlos Barbosa (ACP) acha que o problema dos atropelamentos é responsabilidade dos peões! (...) Em matéria de mobilidade, o presidente do ACP é uma pessoa medieval. No seu entendimento, deveria reinar a lei do mais forte nas relações entre peões e automóveis.
(...)
Se todos somos peões, essa é uma condição universal, e essa é uma condição que quando em conflito com um veículo motorizado, dá ao peão uma desvantagem evidente entre capacidade de criar dano e risco de sofrer dano. Claro que quem conduz uma tonelada de ferro mesmo a “apenas” 30/40 km/h comporta maior perigo potencial que alguém que translada 70kg a 2 km/h! Ou não, senhor Barbosa?

Imaginemos por momentos que num qualquer parque automóvel ou avenida de Lisboa vários lugares de estacionamento, para não dizer todos, estavam ocupados por peões a ler o jornal, a saborear uma bica ou um cimbalino, a brincar com os filhos numa manta estendida, a dormir a sesta. Imaginemos que de cada vez que um condutor não respeita uma passadeira, um sinal vermelho ou faz uma razia a um ciclista, a conta bancária é descontada em cerca de 200€ (valor duma multa por não respeitar um stop em Portland, EUA). Quem invade o espaço nas cidades?
(...)
As duas maiores cidades do país associaram-se a uma iniciativa que aborda o mundo ao contrário, porque equaciona mal um problema grave, indo ao arrepio de tudo o que é vanguarda no pensamento das questão da mobilidade e da cidadania. Por muito que custe aos senhores Barbosas desta vida, por muito que a sua tacanha mentalidade egoísta recuse olhar o mundo em que vivemos, somos mesmo todos cada vez mais peões!"

Ainda a propósito: PARK(ing) Day

Miguel Barbot