De: Pedro Figueiredo - "O que é que o Porto tem...?"
O Porto tem:
- Um discurso emergente que, tal como nas palavras da Cristina Santos, tende a confundir CIDADE com PRODUTO.
- Nos mais variados discursos aparecem termos desde sempre estranhos à realidade CIDADE e às “CIDADES”.
- “Marketing”, “produto”, “apelo”, “oferta”, “imagem-mix”, etc. não são a abordagem necessária para se fazer cidade. Para fazermos cidade, onde se lê marketing leia-se “Políticas”, onde se lê produto leia-se “ambiente urbano”, onde se lê “apelo” leia-se “necessidades e carências dos habitantes da cidade”, onde se lê oferta leia-se “Edifícios”.
- Porque é que, em anos e anos de cidade, sempre tratámos de fazer cidade como CIDADE – a tal cidade que designamos por facilidade como “Baixa e Centro Histórico”? ...E havia coerência na diversidade, mas também havia caos - uma maravilhosa amálgama de bocados e colagens - desde as escadas do Barredo até aos arcos da Ribeira, sem políticas públicas - um Caos que também é cidade e extraordinariamente orgânica, bela e bem feita. Mas no campo inverso também houve políticas públicas: houve ruas novas, houve a fantástica normalização industrial que são as fachadas que praticamente revestem o Porto no séc. XVIII e XIX com edifícios “todos diferentes – todos iguais”: lotes com 7 metros de largura, alturas normalizadas, revestimentos normalizados, caixilharias normalizadas, cores de revestimento exterior standard com variações mil, conforme a cerâmica... E também esta cidade com políticas públicas e reguladoras é digna de ser mostrada, desde a Rua do Almada até à Rua Álvares Cabral ou à Rua de Sá da Bandeira...
- E porque é que, passados estes séculos de sucesso aparente (sucesso porque temos de facto entre-mãos uma cidade interessantíssima), em vez de tratarmos a cidade como CIDADE, os edifícios como EDIFÍCIOS, os cidadãos como CIDADÃOS, passámos a tratar a cidade como PRODUTO, os cidadãos como “TARGET”, os edifícios como “OFERTA e PROCURA”, achando que assim conseguimos fazer melhor do que os Almadas, o Marquês de Pombal, Marques da Silva, Nasoni, Siza Vieira, Souto de Moura, o Povo do Porto e as Brigadas SAAL, os ARS Arquitectos, Cassiano Branco, etc, etc...?
Pedro Figueiredo