De: JA Rio Fernandes - "As contas das SCUTs (de novo?)"
Fazer contas a sistemas como o das vias sem custos para o utilizador (e com custos para todos, os que as utilizam ou não), como nos propõe o interessante texto de José Castro, ajuda a demonstrar como a matemática ou a economia não marcam o fim da política.
Estes sistemas podem ser vistos como um problema de ciências do ambiente, ou de engenharia de transportes, que sustentaria o pagamento nas estradas e a gratuitidade do ferroviário, ou de geografia política, que diria que a haver auto-estradas sem portagens elas deveriam beneficiar a CIM do Tâmega, mas serve também para alimentar conflitos Norte-Sul (no caso), ou litoral-interior, ou ainda do Algarve contra os outros.
Na base política mais ideológica (e político-partidária), penso que é interessante ver como aqueles que se identificam com a direita procuram alargar o conceito de utilizador-pagador à saúde e ao ensino, na mira de uma economia mais sustentável mas que leva ao aumento das desigualdades (ver o pequeno e belo livro Ill Fares the Land, de Tony Judt); a esquerda procurando manter uma sociedade mais igual para todos, modernizada e actualizada em sucessivas reformas, com alguns destes (muito poucos na Europa, nenhuns nos Estados Unidos e bastantes em Portugal) a acreditar que quase tudo (incluindo auto-estradas, o que é raro noutros países) deveria ser universal, gratuito e gerido pelo Estado, apesar de as experiências que conhecemos de economias geridas pelo Estado não terem tido um grande sucesso (com excepção da China, comunista e capitalista, merecedora de um outro debate).
Tudo resumido: eu defendo que os hospitais devem ser pagos por todos, mesmo pelos que têm saúde e defendo que, em Portugal, os que não têm automóvel, ou não o usam, não devem pagar todos os custos associados à construção e gestão das auto-estradas. Se se pretende discriminação geográfica e o reforço da competitividade do Norte no quadro nacional, que se favoreça antes de mais o Tâmega (e que se encontre outras formas), porque, a meu ver, perde-se capacidade reivindicativa para o Porto e para o Norte ao se pretender vantagens para quem vive ou usa a via rodoviária rápida mais encostada ao mar, numa desigualdade inaceitável (até para galegos) com os utilizadores (e empresas) da ligação Valença - Ponte de Lima - Famalicão - Porto ou Amarante - Penafiel - Paredes - Porto, assim como com todos os portugueses que não têm automóvel e tantas e tantas outras empresas!