De: José Silva - "Mudança de Bitola na AMporto"
Caros portuenses,
O tema ferrovia circular referido pelo político do PS do Porto no JN levanta várias questões.
1. Costumo dizer que o desenvolvimento económico é uma questão sociológica na medida em que a capacidade de produzir bens de elevada margem num território depende da densidade de população activa residente que a cada momento esteja motivada, tenha elevado desempenho profissional, seja empreendedora, e com conhecimentos de negócios com elevada margem. Em Portugal e também no Norte, porque somos estatisticamente ignorantes, porque não empreendemos, porque não exigimos boa gestão, acabamos por não ser tão desenvolvidos como gostaríamos. É por isso que o salário mínimo na Turquia já é maior que o nosso, que diariamente se estabelecem em Londres portugueses qualificados (fuga de cérebros) e que galegos já estão a exportar castanha para a China enquanto nós não. Isto tudo para referir que questão essencial em Portugal é a mudança de bitola ibérica de 1668mm para europeia 1435mm e não a construção de metros ou TGVs. A bitola europeia ir permitir a concorrência de fornecedores de transporte ferroviário, tal como existe nos aviões ou rodovia de passageiros. Teremos a CP, mas também a Renfe ou a SNCF a operar em Portugal. António Alves tem toda a razão. É óbvio que um transporte ferroviário circular aproveitando o ramal de Leixões faz todo o sentido. Não interessa se é gerido pelo Metro do Porto ou se pela CPPorto. O que interessa é que seja convertido para bitola europeia (1435mm), tal como as composições do Metro já o são. É anti-económico colocar um metro na Circunvalação...
2. A rede ferroviária que existe foi planeada antes da era do petróleo. O seu traçado determinou a valorização de territórios, propriedades, imóveis que perdurou na época do automóvel das últimas décadas. O petróleo está no pico de produção. Dentro de alguns anos não haverá petróleo barato e voltaremos à ferrovia. O traçado que hoje for decidido determinará a valorização ou não das nossas propriedades nas próximas décadas, beneficiando-nos e à nossa descendência.
3. Estes projectos são sempre objecto de tráfico de influências, expropriações «previamente transaccionadas» e empreitadas para conhecidos. Já Lenine o dizia nas suas críticas ao crescimento urbano do capitalismo. Eu confirmaria com alguns episódios. Um militante do PS de Lisboa dizia-me há uns 10 anos que uma importante figura portuense impulsionadora do Metro do Porto teria ganho 300000 contos de comissão para beneficiar certa empresa no concurso. Na Trofa de hoje é conhecida participação de «empresários» na vida política com o objectivo de comprar terrenos e os vender posteriormente à respectiva Câmara. Já Paulo Morais vai dizendo o mesmo no seu livro «Mudar o Poder Local», acreditando, ingenuamente, que pode Manter o Poder Central ou que este não é patrão do primeiro... A culpa é mesmo nossa: aceitamos políticos de tão baixa qualidade.
4. Este assunto é demasiado sério para ser deixado nas mãos de uma distrital partidária, de um governo que vive de propaganda ou dos centralistas do costume. A sociedade civil tem que gastar algum tempo e atenção em prejuízo da atenção ao futebol, por exemplo. É que o ramal de Leixões será nos próximos anos um eixo essencial da AMporto. Por um lado o transporte de passageiros já referido. Por outro lado a ligação há anos projectada ao porto de Leixões e Aeroporto para a intermodalidade no transporte ferroviário de mercadorias.
5. Mas as implicações estratégicas da mudança de bitola e deste ramal não ficam por aqui. É QUE, TEORICAMENTE, O COMBOIO DE VELOCIDADE ELEVADA PORTO-VIGO PODE USAR A REDE DE CARRIS DO METRO DO PORTO OU o RAMAL DE LEIXÕES CONVERTIDO PARA BITOLA EUROPEIA!!! Este ou o troço final da linha Vermelha podem ser usados pelo CVE Porto-Vigo. A discussão sobre o afunilamento Srª Hora - Trindade não pode ser desligada do reaproveitamento do ramal de Leixões nem da decisão sobre o traçado do CVE de Vigo na aproximação a Campanhã. É que pura e simplesmente não haverá grandes diferenças técnicas entre estes canais. Não haverá grandes diferenças entre Metro do Porto e CPPorto num cenário de bitola 1435 mm! Temos que aproveitar o que temos. Temos que escolher a solução que maximize a utilização e minimize os custos. Temos que impedir que os políticos se lembrem de construir novos canais ferroviários sobre terrenos previamente transaccionados... Faço votos que os leitores se empenhem na defesa dos seus interesses e se defendam dos PQT – políticos que temos.