De: Isabel Pimenta - "A Linha do Tua é..."

Submetido por taf em Sexta, 2010-07-30 15:24

Conheci o Vale do Tua há cerca de cinco anos, devido ao meu companheiro que tem laços familiares com essa região. Acompanhei os movimentos cívicos que levantaram questões, deram alternativas para a sobrevivência e viabilidade da linha. Quando vamos para o Fiolhal, aldeia perto da foz do Rio Tua, vamos sempre de comboio. É uma das mais bonitas viagens de comboio. Em certas zonas, o comboio fica rasante à água, parece que flutua na água do rio Douro. Desfilam o vale, as paredes de granito cortadas à faca, as vinhas, as oliveiras, ciprestes, que se reflectam no rio e ganham outra dimensão. A viagem pela Linha do Tua completa esse deslumbramento. Inicia-se no vale muito accentuado, uma vertigem de escala! A carruagem a meia altura do vale e fio de água do rio Tua em baixo. A viagem acaba por entre terrenos com papoilas e oliveiras. O comboio no meio do campo! Devagar, devagarinho para poder contemplar esta paisagem. Paisagem: será este termo suficiente para parar a construção de uma barragem? Então que tal construirmos uma barragem no Porto por detrás da Ponte D. Luís até à altura da Serra do Pilar?

Saliento que a viagem de comboio pela Linha do Douro oferece a melhor vista para o vale do Douro e não a IP4 e afins (lembro da minha desilusão quando fui de carro - não se vê quase nada!) Aconselho a todos uma viagem pela Linha do Douro (evitar o comboio a vapor devido aos riscos de incêndios.)

Nota: o que me entristece é a posição dos autarcas, excepto o de Mirandela. Todos esses senhores se venderam. Demonstraram que não têm plano estratégico, nem visão, para o desenvolvimento da região. Limitaram-se a fazer as contas ao que iriam receber, sem falarem da sua aplicação. Nesta história, o que está em causa não é só uma barragem, uma linha, é o problema da desertificação. Para quem está convencido de que as barragens trazem desenvolvimento, peço para considerar o caso das barragens de Bemposta e Picote. Boas estradas, boas infra-estruturas e o silêncio.

Isabel Pimenta