De: José Ferraz Alves - "Ao Grupo «POR TRÁS-OS-MONTES E DOURO. Barragens SIM! Riqueza criada, Riqueza fixada»"
Eu sou dos que foge aos “nãos” da vida. Ainda hoje ouvia algumas das últimas palavras do António Feio, apelando ao viver cada dia, ao se fazer, ao não deixar nada para trás. Também conheço bem as constantes divisões e oposições bem típicas de espíritos mesquinhos e invejosos, que não sendo capazes de mais, em vez de aprender, levantam os braços para mais ninguém passar. Sou dos que considera que os problemas que temos no Norte, no Douro, em Trás-os-Montes, sobretudo a nós se devem, mesmo numa altura em que o encerramento de escolas e de unidades de saúde públicas tanto afectam a nossa região. As divisões internas só nos prejudicam. Se o quisermos e lutarmos, se formos perseverantes, tudo é possível.
A minha vida tem sido passada no mundo da finança e dos investimentos empresariais, e sei a importância que investimentos estruturantes podem ter como âncoras à volta da qual se podem desenvolver as pequenas iniciativas empresariais privadas, no limite, as que interessam para o desenvolvimento. Nem sou nada contra barragens, que são importantes em múltiplas facetas. Neste domínio, incentivo e apoio quem luta para que as compensações financeiras decorrentes da exploração de recursos naturais fiquem na região. Daí, medidas como a distribuição da derrama pelas localidades envolvidas e a constituição de fundos de desenvolvimento são excelentes passos e o resultado desta atitude de alavancar na barragem algo mais para as regiões. Que em nome da região em que vivo, muito agradeço.
No caso específico do Tua, considero que é uma muito má opção trocar as potencialidades da linha férrea, que considero vital como infra-estrutura pública que rasgue o território do Douro até Sanábria. As últimas décadas foram de esquecimento e de degradação contínua da linha e do serviço às populações locais. É fácil fazer crer que ninguém usa este meio de transporte, basta não o modernizar, deixar degradar, optar por horários desadequados. Depois ninguém o usa, e justifica-se a redução de investimentos por não haver procura e assim sucessivamente. Melhor do que eu, o Jorge Pelicano mostra bem o que é desenvolvimento regional alavancado numa linha férrea, na Suíça.
Neste momento, começa a viver-se o princípio do regresso ao mundo rural, dos novos colonizadores, que deixam de sobreviver nas cidades para escolher uma vida mais plena em contacto com a natureza e com a actividade agrícola e agro-industrial. Os próximos anos vão ser de fluxo em direcção ao mundo rural, pese embora tudo o que a política pública feita por Google Earth a partir de Lisboa tem feito em sentido inverso. O sector primário vai reassumir o protagonismo que já teve. Claro que se a opção for não fazer a barragem do Foz-Tua e continuar o abandono da linha, ninguém ganha com a opção. Daí eu fazer referência ao projecto estruturante que o IDP – Instituto da Democracia Portuguesa apresentou para o Vale do Tua, alicerçado na linha ferroviária. Que, porventura, por falta de diálogo, não é de conhecimento de todos os que querem o desenvolvimento. É um projecto de SIM ao desenvolvimento. A aposta nas fileiras da castanha e do azeite (projectos da UTAD engavetados por falta de apoios financeiros, da indústria de cosméticos, da agro-indústria), as termas e o turismo de saúde, o museu que perpetue a memória do rio Douro, a modernização da linha do Douro de Leixões até Salamanca, o potencial das Quintas do Vinho do Porto, a articulação com Côa. As acessibilidades têm de ser melhoradas na região, e isso é possível pelas vias férreas. Há um potencial enorme em fazer chegar Madrid a esta região pela AVE, tenhamos depois região de eleição para receber turistas e investidores.
Isto só aparece agora porque houve um uníssono não à contínua degradação das condições de vida no Norte. O não se ter feito nada no passado não é argumento contra ninguém, somos todos responsáveis, e devemos viver cada dia do presente com os olhos no futuro. Garanto que Trás-os-Montes e Alto Douro vai ser uma região de eleição, uma nova Toscânia, esperando eu que algumas pessoas dessa sub-região também percebam que este território se pertence a alguém, será a Deus e/ou ao Universo, não à sua limitação de pessoas. Este estado de espírito já tenho sentido. Parece que alguns em Trás-os-Montes desconfiam de tudo e de todos e se encerram na limitação do nada que têm para mostrar. Nada neste mundo é deste ou daquele. Eu sou do Porto e quero contribuir para ajudar a Região Norte e o Douro e Trás-os-Montes e só que peço que percebam bem quem é o inimigo.
Abraço
José FA