De: Pedro Figueiredo - "Apelo cívico (Linha do Tua) e Aproveitarmos as boas ideias «estrangeiras»"
LINHA DO TUA... UM APELO CÍVICO
No mesmo dia em que se torna público o início do processo de classificação da Linha e Vale do Tua, é inaugurado em Vila Nova de Foz Côa o Museu dedicado às gravuras e património classificado, liberto das águas da barragem há 15 anos atrás.
O que se consegue quando as pessoas se mexem? Tudo ou quase tudo! Quando as pessoas se mexem e põem em acção os mecanismos raros de democracia directa, popular e participativa conseguem:
- 1 - ...que o Coliseu do Porto não vá parar às mãos de uma entidade religiosa, permanecendo o seu carácter público e de casa para espectáculos.
- 2 - ...que o desenvolvimento de Foz Côa se faça através do turismo cultural ligado à paisagem e (pré-)história, e não baseado em turismo de albufeira de 3ª categoria.
- 3 - ...que o Mercado do Bolhão continue a ser a grande referência de mercado de frescos da cidade, e não um shopping igual a tantos outros.
- 4 - ...
O que é a Democracia Popular? A Democracia popular não é com certeza um qualquer regime governado por burocratas cinzentos, uma qualquer clique Estalinista que manchou (quase) para sempre uma boa parte da esquerda e que em geral participa com força e legitimidade nas lutas justas – pelo património, também... (a Albânia, a União Soviética, a RDA, etc... não são com certeza a Democracia Popular. Nem democracia, nem popular.)
Quero apelar neste momento a que se pressione mais do que nunca a EDP e o governo português para que PARE mesmo a barragem e engavete a barragem... (talvez na mesma gaveta onde já Mário Soares colocou o Socialismo há uns anos atrás...). Como sabemos, em Portugal é possível um ministério (cultura-IGESPAR) dizer uma coisa e os outros ministérios (economia – energia) o contradizerem no momento seguinte, e isto “ser considerado normal”. Mas não, não é “normal”. A classificação da Linha do Tua só tem uma consequência possível: rasgar o projecto da barragem. Abrir um plano ferroviário, turístico e comercial que integre o Vale do Tua no turismo do Douro – o Norte e o Douro são hoje o (único) motor do Turismo em Portugal! Deixemos o professor Cavaco Silva com as suas autoestradas e férias no Portugal-Algarve. Apelo a que este Verão façamos férias de comboio em Portugal-Douro e para o ano de comboio em Portugal Douro-Tua.
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APROVEITARMOS AS BOAS IDEIAS “ESTRANGEIRAS”
A propósito de a cidade do Porto – como outras cidades aliás – desaproveitar constantemente o know-how / savoir-faire que já circula pelo “estrangeiro”, e o faz evoluir ao contrário do nosso caciquismo local, citação do livro de David Byrne – editora Quetzal – “Diário da Bicicleta” (pág. 340 - 341):
“Através da Transportation Alternatives, uma organização nova-iorquina de defesa da utilização de bicicletas, apresentam-me Jan Ghel, um planeador urbano visionário, mas prático, que conseguiu transformar Copenhaga numa cidade simpática para os peões e ciclistas. Agora, pelo menos um terço da população activa de Copenhaga vai para o emprego de bicicleta! Ele diz que dentro em breve se aproximará da metade. E a verdade é que não está a sonhar. Aqui em Nova Iorque, nós podemos achar que isso é natural e que está muito bem para os dinamarqueses, mas os Nova-Iorquinos são aguerridos e têm um espírito independente, portanto isso não pode acontecer aqui. (O motivo porque as pessoas acham que guiar um carro faz com que tenham um espirito independente é para mim um mistério.) Mas Ghel revela-me que, no início, as propostas se depararam exactamente com esse tipo de oposição lá: os habitantes locais disseram: “Nós, Dinamarqueses, nunca iremos concordar com isto – O povo Dinamarquês não vai andar de bicicleta”. Numa das suas palestras com diapositivos, ele mostra imagens de uma rua, do género “antes - e – depois”. Aqui fica o depois. (...) (fotografia) (...)
Anteriormente, a área que delimitava o canal era utilizada para estacionamento; os carros seguiam por ela para estacionar. Este sítio encantador era, não há muito tempo, um parque de estacionamento feio e um ponto de passagem. Agora, é um destino. Os carros ainda podem passar por aqui, mas não para estacionar. E a partir dessa pequena alteração, a zona explodiu e transformou-se num sitio agradável para encontros e até um destino turístico. E nem foi sequer necessário que a cidade procedesse a “melhorias” dispendiosas para permitir que isso acontecesse. Os clientes e os negócios existentes na zona fizeram as melhorias – colocando cadeiras lá fora e instalando toldos – embora de início muitos deles tivessem protestado, afirmando que se as pessoas não pudessem estacionar à frente das lojas os seus negócios ficariam prejudicados.
Parece ser assim que Ghel trabalha, introduzindo alterações incrementais relativamente pequenas ao longo de vários anos, aqui e ali, que acabam por transformar a cidade inteira a fazer dela um sítio mais agradável para viver. Ghel aceitou juntar-se à iniciativa no Town Hall e dar uma pequena palestra! Recentemente foi contratado como consultor da cidade de Nova Iorque e tem realizado estudos acerca dos estados de coisas noutras cidades – Amesterdão, Melbourne, Sidney e Londres – para além do que faz na sua Copenhaga natal. Aqui em Nova Iorque o departamento de transportes acaba de pedir recomendações adicionais ao gabinete dele. Se o departamento e as autoridades municipais vão ouvir já é outro assunto, mas é uma decisão animadora.”
... Li que os comerciantes da Rua de Santa Catarina também protestaram contra o fecho da rua ao tráfego automóvel (salvo erro em 1978), no que foi porventura a melhor decisão em prol do pequeno comércio nesta cidade... Os comerciantes alegavam que o fecho ao tráfego seria mau para o negócio... (RISOS). É para vermos o curto alcance de muitos dos protestos do pequeno comércio nesta e noutras cidades, muitas vezes mal alicerçados em preconceitos sobre “o que é melhor para o negócio”...
Pedro Figueiredo