De: António Alves - "Linha de Leixões: O anel estruturante para a Rede de Metro do Porto"

Submetido por taf em Sexta, 2006-07-28 19:31

Que a direcção política da cidade do Porto anda pelas ruas da amargura, já é de todos sabido. Mas, infelizmente para nós que cá vivemos, as oposições, desta vez a nível distrital, também demonstram uma total impreparação para assumir qualquer cargo de decisão. Senão atentemos nestas declarações de Renato Sampaio, líder distrital do PS, ao Jornal de Notícias:

«É o que o PS defende há anos a não existência da linha da Boavista mas de outra mais a Norte que faça Matosinhos/ Senhora da Hora/S. Mamede, com ligação ao Hospital de S. João. Tudo aponta para essa solução.»

Ensina-nos a boa Economia que os recursos são sempre escassos. Logo, antes de nos lançarmos em novas construções, devemos primeiro verificar se o que já existe, melhorado ou utilizado de modo diferente, poderá resolver os problemas que nos atormentam. Mais ainda quando se trata de infra-estruturas caríssimas como as vias ferroviárias, sejam elas linhas de metro ligeiro ou de caminho-de-ferro pesado. E este é um caso evidente em que se deve reaproveitar o que já existe em vez de se gastar milhões na construção de nova linha de metro. O que já existe, que corresponde exactamente ao traçado sugerido (Matosinhos/Senhora da Hora/S. Mamede/Hospital de S. João), é, sem mais nem menos, a linha ferroviária de Leixões, que liga Matosinhos à Estação de Campanhã. Vejamos como:

A Estação Ferroviária de Leixões, em Matosinhos, fica situada exactamente em frente, à distância de 170 metros, do terminal de inversão do Metro do Porto no Senhor de Matosinhos. Construindo uma passagem aérea ou prolongando a linha de metro uns escassos 100 metros, constrói-se aí um interface entre os dois sistemas.

Interface Matosinhos

Partindo de Leixões e após escassos quilómetros, esta via tem um cruzamento desnivelado (passa por baixo) em Guifões com a Linha Vermelha do Metro; o local é na zona onde se situam as instalações da EMEF, empresa que faz a manutenção das composições da CP, e onde também a Metro tem instalada a sua infra-estrutura logística. Para quem venha pela Linha Vermelha, o cruzamento situa-se a cerca de 850 metros depois da Estação de Custóias. Também aqui será fácil construir um interface com a linha que liga o Porto ao Aeroporto e Póvoa. Até a orografia das linhas ajuda. Aí vão dois.

Interface Guifões

Continuando a nossa marcha, voltamos a cruzar com o Metro, desta vez com a Linha Verde (Porto-Maia-ISMAI), quilómetro e meio mais à frente, no local onde se encontra a Estação de Metro do Araújo. Este cruzamento (desta vez a linha ferroviária passa por cima da linha de metro) constituirá o terceiro interface entre o sistema do Metro e a linha ferroviária.

Interface Araújo

A próxima paragem será a Estação de Leça do Balio, seguindo-se São Mamede Infesta, cuja estação se encontra muito bem situada em relação ao núcleo urbano desta populosa freguesia.

São Mamede

Prosseguindo a viagem, percorridos uns curtos 1500 metros, passamos a cerca de 300 da portaria do Hospital de S. João. Prolongar para lá da Circunvalação a Linha Amarela (Gaia - H.S. João) e construir novo ponto de contacto com a Linha de Leixões não me parece tarefa de realização muito complexa. Seria mais fácil, é certo, se na zona do Hospital o Metro já circulasse enterrado. Muitos, mais lúcidos, pugnaram por isso. Adiante, já contamos quatro interfaces.

Interface S. João

A partir daqui a Linha de Leixões segue em direcção a S. Gemil e Pedrouços, cruza-se com a Circunvalação na zona do Bairro de S. João de Deus e chega à Estação de Contumil, onde se encontrará com a futura linha de Gondomar. Dois quilómetros depois estamos em Campanhã e temos de novo o Metro à nossa disposição. Mais 5 minutos e atingimos o coração do Porto na Estação de S. Bento. Aí, saimos à rua (ainda hoje estou sem compreender porque não foi construída uma ligação da estação de metro para o interior da gare ferroviária), entramos na estação desenhada pelo Arq. Siza e embarcamos para qualquer destino da Linha Amarela, aquela que nos liga a V. N. de Gaia. Se não me engano, já conto seis pontos de contacto entre a Linha de Leixões e o sistema do Metro do Porto no percurso ferroviário iniciado em Matosinhos e terminado em Porto S. Bento.

A linha de Leixões, devidamente duplicada, com interfaces funcionais e confortáveis, que protejam os passageiros das intempéries e não sejam meros apeadeiros a céu aberto, como são a maioria das estações à superfície do Metro do Porto, poderá ser o anel estruturante que falta à rede de Metro. É uma linha tranversal e circular que se cruza com 4 linhas de metro. Serve zonas muito populosas como Matosinhos, São Mamede de Infesta e Pedrouços, e ainda passa junto a uma zona industrial onde pontificam empresas como a EFACEC e a UNICER além do núcleo instalado na ex-CEPSA. Tudo factores fortemente indutores de tráfego para um sistema integrado de transportes como este seria. A sua utilização como vector de transporte de passageiros amplificaria exponencialmente o número de percursos possíveis na rede de metro.

Rede

De Leixões a São Bento são 23 km. Uma das novas automotoras da CP Porto, mantendo uma velocidade comercial de 60 km/h (coisa fácil para este material circulante), completaria a viagem em apenas 25 minutos. A Linha de Leixões pode ainda ser utilizada para ligar directamente, com comboios urbanos, Ermesinde a Matosinhos, através do Ramal do Lidador que liga S. Gemil a Ermesinde.

O não aproveitamento desta infra-estrutura para o transporte de passageiros e, em vez disso, propor novos traçados de linha, com os custos milionários que isso acarreta, é um crime de lesa-economia. Mas isto, vindo dum partido que já se propôs construir uma linha de metro no espaço existente entre as duas vias da Circunvalação, já não me espanta. Infelizmente, aqueles que nos representam nem a sua terra e as infra-estruturas disponíveis conhecem. Na próxima vez que vierem de avião de Lisboa, aproveitem para olhar cá para baixo e tirar uma fotografia global. Ficariam a saber mais e nós agradeceríamos.

Nota: as imagens foram retiradas do Google Earth e apresentam alguma desactualização.

António Alves