De: Pedro Figueiredo - "Aleixo: Este bairro que vos deixo"
Há cerca de uma semana, um artigo do JN versava o seguinte: “Famílias do tráfico têm esconderijos de armas e droga“
«Mais de 20 casos de ofensas corporais e tentativas de homicídio envolvendo duas famílias rivais no controlo do tráfico no Bairro do Aleixo, no Porto, levaram a PSP a descobrir esconderijos de droga e armas, entre as quais uma metralhadora "Kalashnikov" e outra "Uzi". Estas espingarda-automática e pistola-metralhadora foram encontradas na posse de um indivíduo que, directamente, nada tem a ver com as famílias “Cavadora” e “Panela”, conhecidas por ligações aos negócios envolvendo estupefacientes. (...) Na posse de uma avó de um suspeito, no Bairro do Aleixo, foi encontrado cerca de meio quilo de cocaína e heroína. Confiscadas foram ainda oito armas de fogo, 16 reproduções de armas proibidas, e cerca de 200 armas brancas, entre as quais se destacam várias espadas e “sabres”, na posse de vários indivíduos, “seguranças”, também ligados às artes marciais. E ainda cinco mil euros em dinheiro. (...) A PSP irá agora aprofundar as ligações entre os suspeitos. Ao que soube o JN, não terão sido, ainda, todos presos, prosseguindo em liberdade vários indivíduos tidos como responsáveis de “topo”, quer pelas zaragatas, quer por negócios de tráfico de droga e armas.»
Deste artigo, tenho a destacar uma nota:
1 - A polícia não prendeu os responsáveis de topo pelos negócios de tráfico de droga, apesar de saber quem são. Um outro artigo de um jornal “gratuito” dizia que o “individuo” ao qual foram apreendidas as armas alegou ser “coleccionador de armas”, e a polícia - que sabemos agora pronta defensora do coleccionismo como um interessante hábito a preservar - terá então libertado o “coleccionista”... Não convém muito uma pessoa confiar muito nestes jornais a custo zero (Destak, Metro, etc) que nos dão estas notícias “gratuitas”, porque corremos o risco de até serem verdade... Mas, adiante.
2 - A Câmara alega o tráfico para defender a demolição. Diria eu que à Câmara do Porto interessa manter por enquanto e o mais possível o mito do tráfico (um novo conceito: o “mito real”, algo que é ao mesmo tempo verdade e exagero...), de forma a manter o principal argumento popular e populista que, segundo Rui Rio, justifica todas as demolições: a demolição da torre dos traficantes e a demolição das restantes 4 torres que não traficam. Faz lembrar a história bíblica de Sodoma e Gomorra: Mesmo que haja 4/5 de não traficantes, o misericordioso Deus/Edil vai usar da sua (in)justiça salomónica e arrasar quer a casa dos justos quer a casa dos pecadores...
3 - Quer a polícia (que tem tantos ou mais olhos do que qualquer um), quer quem não reside no Aleixo, vê há anos o que se passa às claras na Rua do Aleixo. Juntando 1+2+3 eu concluo uma espécie de teoria da conspiração que assenta como uma luva em guião de um filme que se tem vindo a desenrolar. Mais real a ficção, mais ficção a realidade, não interessa. A polícia não actua porque não quer actuar. A Câmara embarca nesta conivência. O povo, sempre com o medo induzido, aplaude tanto a “coragem” e a ”radicalidade” da Câmara.
O negócio com o Banco Espírito Santo tem assim uma óptima rectaguarda, com escolta policial, política e tudo. E tudo. E tudo o vento há-de levar o bairro do Aleixo? Talvez não. Na minha opinião, há muito a investir neste bairro, desembolsando dinheiros que, de resto, têm sido usados noutros bairros:
- 1 - Um referendo à população do Aleixo.
- 2 - Um programa para a reabilitação das torres ou integração em casas sociais no Centro Histórico: eventualmente em parte das casas recuperadas pela SRU, mas a preços controlados, sociais. Ou ainda outra solução que resulte do tal referendo.
- 3 - Um programa médico–policial de ataque à questão da droga. Da parte da polícia, basta usar os conhecimentos e meios que tem, que são de certeza suficientes, se houver vontade. Já que todos reconhecemos que o problema é grave, há que actuar em conformidade! A polícia apenas tem de usar a força e a inteligência de que dispõe. Bolas, que estamos na ainda 2ª cidade do país e na Europa Ocidental. Da parte médica, impõe-se um programa que inclui salas de chuto, acompanhamento médico, controlo de doseamento, qualidade, reabilitação, etc...
Enfim. As políticas inteligentes que “lá fora” já se usam há uns bons anos e que teimamos em não imitar, preferindo a política das demolições e construções. Rui Rio chamará Bin Laden para demolir o Aleixo? Talvez desse um bom espectáculo de aviões para substituir o Red Bull, mas não resolveria a questão das torres. Aquilo é uma questão humana, não de torres per se.
Pedro Figueiredo