De: Pedro Figueiredo - "O Centro Histórico antes do CRUARB"

Submetido por taf em Terça, 2010-06-29 01:32

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Estes desenhos de levantamento da sobreocupação humana dos quarteirões do Centro Histórico Sé – Ribeira – Barredo feitos ao início do processo CRUARB – CH - revelam bem o que foi a dura realidade do subaluguer de quartos, vãos de escada, pisos inteiros, meias-casas, águas furtadas, anexos, etc., que o povo do Porto teve de sofrer até ao 25 de Abril. Qualquer pedacinho de edifício era alugado e depois sub-alugado, fazendo rentabilizar ao máximo os metros quadrados disponíveis e provocando os problemas de sobreocupação, insalubridade, doença, destruição, etc. que sabemos terem sido características comuns às habitações de então, do Centro Histórico. Foi prometido às classes baixas nestas circunstâncias um realojamento provisório no novíssimo bairro do Aleixo enquanto o CRUARB – CH se ocupava (e ocupou) da reabilitação das suas casas. Por alguma razão – apenas lógica ou também circunstancial – o CRUARB não finalizou a recuperação do Centro Histórico, havendo tanta recuperação por fazer ainda... Agora temos a SRU mas numa “lógica” inversa à do CRUARB – CH.

O bairro do Aleixo lá continua a mirar o rio, com muitas destas famílias supostamente à espera de ordens de despejo e demolição das suas casas, sem que haja certeza alguma sobre que habitações irão ocupar, se essa nova ocupação será “social” ou com “rendas baixas” ou “altas”/incomportáveis ou ainda em que fantástico bairro ultraperiférico (...sobrelotar ainda mais o Lagarteiro?) irão viver, ou se vão mesmo viver para a rua numa acção de despejo/desprezo da Câmara Municipal do Porto (Câmara de TODOS os Portuenses...).

O CRUARB trabalhou numa lógica pública, de recuperação de pessoas e sua integração social e física, economia local e de recuperação de habitações enquanto património. Rui Rio, eleito pelo Porto em geral, decretou que o CRUARB não fazia sentido, não mais seria possível ter uma visão integrada (Social e Física) da cidade, e prometeu aos habitantes do Aleixo que iria então substitui-los por outras pessoas mais ricas e bonitas no mesmo bairro do Aleixo com outra forma (“Novo Aleixo”). Pessoas estas que não trafiquem drogas portanto. Entretanto, mesmo as casas anteriormente ocupadas por estas famílias no Centro Histórico, também estas casas estão reservadas para outras pessoas, mais ricas e mais bonitas no mesmo Centro Histórico. Não consta do caderno de encargos da SRU que a recuperação em execução tenha a finalidade social do realojamento nem mesmo para os ex-habitantes, nem mesmo para os actuais habitantes do Aleixo, que daqui saíram.

Dou o conselho a Rui Rio: que demonstre a sua magnitude e grandeza realojando a preços sociais os habitantes do Aleixo nos novos quarteirões da SRU, já conhecidos de algumas destas famílias. Parece que já há cerca de 200 fogos – é o que a SRU anuncia, e assim acabava com dois coelhos de uma cajadada só. Já tinhamos habitantes na Baixa, já podia demolir o Aleixo para dar negócio ao Banco Espírito Santo, já conseguia dar um fim à interrogação... ”Quem irá habitar a “nova Baixa” e a que preço?” Resposta: os do Aleixo e a preço social. Mais integração urbana é possível e o principio do fim de um “cancro social” (O Aleixo, cancro social? ...Não, Rui Rio, um cancro social!).

Post Scriptum: que ninguém me diga que isto das cidades e do património não tem nada a ver com “luta de classes...”

Pedro Figueiredo