De: Alexandre Gomes - "Here we go again: A requalificação do Museu do Carro Eléctrico"

Submetido por taf em Domingo, 2010-06-27 11:40

Caros todos, TAF,

Leio hoje no JN-online:
"A reconversão do Museu do Carro Eléctrico, no Porto, terá inspiração germânica. Um arquitecto de Berlim (Alemanha), Thomas Kröger, assina o projecto vencedor que, quase sem mexer na fachada dos edifícios, cria uma nova entrada através de ampla escadaria. A demolição de dois anexos que não existiam no projecto original (...)"

E tem uma montagem do que vai ser feito, uma intervenção que deixara o edifício muito como foi planeado ser. A cerca vai-se, a permitir a realização de mais um exemplo do Eira Look no Porto (os melhores exemplos do qual são a envolvente da Cadeia da Relação e do total da Avenida dos Aliados - se bem que haja quem defenda que tanto as esplanadas das praias de Matosinhos e da de Leça seriam melhor ilustração, pelo seu uso principal ser no Verão e de não haver sombra de espécie alguma).

A escadaria que parece ser de vidro e aço levar-nos-á à entrada nobre (sic), num primeiro andar. Vê-se também no edifício à direita de quem entra, o também já típico bloco dos mesmos materiais a ultrapassar em altura a fachada (aqui a inspiração só pode ser a do edifício das carrancas na Rua Castilho em Lisboa, cuja única virtude foi o ter sido requalificado depois de ter ruido - como se queria - num tempo em que o bota abaixo faz novo ainda era o padrão, há 25 anos atrás). As janelas aí desaparecem deixando uns buracos a dar para o vidro - sem dúvida reflector - como olhos mortos.

Curiosamente vi ontem pela primeira vez o museu do transporte urbano aqui em Bruxelas depois da sua reforma. Está na mesma pareceu-me (vou hoje visitar e depois vos direi) o que é óptimo. Só perdeu - do exterior - o ar um pouco decrépito. E tiraram-lhe os acrescentos do século que seguiu a sua construção como remise, como o nosso, luzes e sinais e assim.

Aqui onde vivo, por ter sido a sede de uma escola afamada em estilo Flamengo revivalista terminada em 1908, os edifícios são todos classificados (tombados como diria um brasileiro, com referência à nossa Torre do Tombo). Há grau 1 (95%) em que só agora permitem a instalação de vidros duplos. Só há duas habitações de grau 2 - uma delas a minha - onde pudemos desde o início há uns 4 anos proteger-nos mais eficientemente do frio e do calor. O resto, cores, qualidade das madeiras, desenho das portas e das janelas, telhados (telha de lousa), antenas, a cerca externa, o parque envolvente e as suas árvores algumas centenárias, e até o número de carros à vista, é tudo regulado pelo Monuments et Sites, o instituto federal por quem tudo tem de passar. E todos os que comprámos aqui para habitar fizemo-lo não apesar deste regime mas por causa dele!

Fico bastante abatido que por aí não seja mais assim por parte dos decisores... Continuo a insistir, faça-se o novo nos sítios novos e recupere-se o antigo, tanto monumentos como sítios.

Abraço,
Alexandre Borges Gomes
Bruxelas