De: Luís de Sousa - "Caem bombas no Líbano"

Submetido por taf em Sexta, 2006-07-28 15:10

As bombas que caem no Líbano e as recentes discussões relativas à falta de lugar para albergar eventos como o Fantasporto e o Fitei, devido à futura gestão privada do Rivoli, fizeram-me pensar que se calhar usar a sala de visitas da cidade seria uma boa opção, sendo claro que temos que pensar em "comprar mobília" para a praça que a Metro do Porto nos limpou e pavimentou "impecavelmente" (esqueçamos blasfémias como a maior tigela de caldo verde do mundo em frente ao Garrett).

A solução do arquitecto Siza é contestada, é discutida, mas a verdade é que está implementada e agora temos que tirar partido dela através daquilo que ela tem melhor, a amplitude e a inclinação que a torna num anfiteatro continuo desde a Câmara até ao D. Pedro IV.

Assim sugiro que guardem os "biblos" (as pobres estátuas que surgem agora descontextualizadas e perdidas em pedestais calcários que flutuam no mar de granito) e comecem a mobilar a sala com equipamentos temporários que possibilitem a realização de eventos anuais como o Fantas e o Fitei. Os arquitectos estão sem dúvida receptivos a concursos (que já não ocorrem na cidade vai para uma década), o arquitecto Siza seria finalmente reconhecido pela sua intervenção (por ter visto algo que os outros não viam para além dos canteiros e nos dar a possibilidade de reinventar a avenida dependendo da ocasião) e a cidade ganhava um novo ânimo sócio-cultural.

Quando se fala de um afastamento generalizado das pessoas em relação às artes, nada melhor que levar a arte para a rua, fazer da cidade uma sala de espectáculos e mudar a sua rotina durante o período de duração dos eventos tendo obrigatoriamente o cidadão comum que se confrontar com a arte e com o trabalho dos artistas. Este tipo de estrutura temporária, é uma mais-valia até para as próprias companhias locais que poderiam montar espectáculo em qualquer parte da cidade, e sensibilizar mais cidadãos para o papel da arte na sociedade contemporânea.

A arte na rua não perde nobreza nem dignidade, ganha prestígio e visibilidade pública. Se queremos educar-nos mutuamente temos que começar no sítio onde todos nos encontramos mesmo antes de nos conhecermos, na rua. Podem assumir esta minha ideia como um devaneio mas há momentos em que temos de divagar. "Afinal, posso não chegar à lua mas tirei os pés do chão." (Da Weasel in Hino Galp)

Cumprimentos
Luís de Sousa

P.S. Caro Rui Valente, obrigado pela atenção que deu à minha sugestão. Contudo devo esclarecer que ainda não sou formalmente arquitecto (estou em formação), embora me sinta desde o momento em que optei pelo ingresso na faculdade. Assim sendo trate-me por Luís pois aqui a profissão é o que menos interessa.