De: Paula Morais - "Classificação pelo IPPAR: património colectivo ou prémio de arquitectura individual?"

Submetido por taf em Sexta, 2006-07-28 12:09

Caros participantes,

Porque, como já anteriormente referi, actuo perante a comunidade sempre como cidadã-arquitecta, venho hoje partilhar a surpresa com que li a notícia sobre a mais recente proposta de classificação pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR): mais especificamente as Piscinas das Marés, comummente conhecidas como “a Piscina de Leça”.

Quando o próprio autor da obra a caracteriza publicamente* como uma obra “ilegal”, por não satisfazer os requisitos da comunidade para este tipo de obras, nomeadamente os que dizem respeito à segurança para os seus utentes, como é então possível que essa mesma obra passe a integrar o património cultural dessa mesma comunidade, servindo inclusive “de referência” para outras obras semelhantes?!

Desta vez, e para não me alongar muito na descrição da minha opinião, limito-me a citar as palavras de um autor, também arquitecto (que ensina arquitectura numa faculdade espanhola). Federico García Erviti, na pág. 13 do livro de sua autoria “Compendio de Arquitectura Legal”, publicado pela Mairea/Celeste, menciona: “Lejos quedan los tiempos en que ‘las catedrales eran blancas’ – como dijo Le Corbusier – y no se aplicaba el reglamento. Hoy la arquitectura es también un producto de consumo que exige el imprescindible control social de una actividad cuyo resultado está directamente vinculado a la vida diaria de todos los ciudadanos. Y ésta es, en último término, la razón de imponer esos innumerables límites que afectam tanto al processo de creación del objecto arquitectónico como a su própria materialización.”

Paula Morais
Arquitecta

Nota* Álvaro Siza Vieira, na pág. 101 do livro de sua autoria Imaginar a Evidência, publicado pela Edições 70, refere: “Esta insistência paternalista em reduzir ou eliminar os perigos é contraproducente, porque quando uma pessoa sai de uma rua reservada a peões encontra repentinamente todas aquelas ameaças das quais está menos habituada a defender-se. O peão sabe mover-se na cidade, sem serem necessárias protecções obsessivas, como demonstram os quilómetros de canais em Veneza, sem parapeitos e sem vítimas. A piscina de Leça da Palmeira funciona ilegalmente porque não foram aplicadas algumas medidas de segurança; não obstante, nunca ali se verificou qualquer incidente.”