De: Pedro Figueiredo - "Pôr em causa um partido do Norte"

Submetido por taf em Sexta, 2010-06-11 19:15

É para mim claro que existe uma enorme discriminação do Norte, face a Lisboa e ao Vale do Tejo, nos termos do costume: a atribuição de obras, investimentos médios e grandes, propulsores de "economia" faz-se mais em Lisboa e menos no Norte em geral. Por outro lado, ou talvez "pelo mesmo lado" afinal, também sinto que o Sul e o Interior também são discriminados ao nível do investimento público e privado face a Lisboa e Vale do Tejo.

Assim sendo, será realmente eficaz a acção de um Partido pelo Norte, quando provavelmente a necessidade seria mais qualquer coisa como um "Partido da Regionalização"? A regionalização terá de ser implementada pelo parlamento, não mais se toleram referendos, grandes debates na televisão que darão em nada. Já todos fizemos diagnósticos e sabemos que Regionalizar é para aumentar a coesão nacional e não diminuí-la e nunca para fraccionar o país, penso eu neste momento... (mas as lógicas da geografia impõem-se as que se tiverem de impôr conforme os momentos históricos, sempre foi assim, não é? - Antes de existir Portugal, não fazia sentido Portugal... só depois é que passou a ser inevitável.)

Mais Norte, mas também mais Sul e mais Interior é o que precisamos. Não sou a favor do tal partido pelo Norte, a partir deste pensamento. E quais seriam assim os interesses "do Norte", afinal? "Interesses há muitos..." (seu palerma), diria o Vasco Santana. No Norte, eu tenho um interesse, Belmiro de Azevedo tem outro interesse, a Fundação de Serralves tem outro interesse, a CGTP tem outro interesse, etc... etc... Alguns interesses são concíliáveis e complementares. Outros nunca o serão. Qualquer território tem múltiplos interesses, antagónicos e irreconciliáveis também.

Dou um exemplo concreto: se para muitos, os investimentos do Engenheiro Belmiro de Azevedo nos vários shopping center com que acabou por "cercar" o Porto são, por defeito, "coisas boas" que trazem "emprego" e estimulam a economia deste Norte, eu tenho argumentos exactamente contrários. Os investimentos do Engenheiro Belmiro de Azevedo (tornado várias vezes Doutor honoris causa em várias universidades) e de outros grandes investidores de capital concentrado no Norte prejudicam o Norte, a economia e o emprego. E isto está à vista: tenho para mim que desde que começou a instalação de shoppings e hipermercados nas periferias há 25 anos, as consequências em 25 anos de periferização têm sido: queda do pequeno comércio urbano e de mercados municipais, com consequências para a habitação e centralidade da Baixa e cidade do Porto em geral; aumento exponencial de tráfego e poluição e gastos excessivos com vias rápidas e circulares e nós que servem estes empreendimentos e retalham o Porto em pedaços sem ligação. O Porto, também por isto, tem estado a ficar subalternizado, apesar de parecer que "há economia" a rolar. Eu diria antes "consumo" a estragar e poluir. Os interesses desta forma defendidos não são com certeza os meus interesses, os do "meu" Norte. Ambos somos do Norte, eu e o Engenheiro Belmiro de Azevedo... E depois? E eu de facto reconheço em Belmiro de Azevedo carácter, combatividade e enorme "pragmatismo", não tenho dúvidas, discordo é das acções resultado da sua combatividade, pragmatismo e carácter.

Relativamente aos malefícios da Interioridade ou Nortandade ou Sulidade, que as políticas centralistas impulsionam: também tenho para mim que Lisboa sofre do mal que ela própria criou. Lisboa sofre dos "malefícios da Centralidade". O Centralismo faz de Lisboa uma cidade com mais rendimentos, mais investimentos, melhores salários (para alguns), mas também... muito mais cara... Em imobiliária, em refeições, etc... Aqui, neste Norte, pratos do dia a 3,50 euros, 4 euros ou 5 euros ainda são o pão nosso de cada dia, ainda bem... e claro, os salários de miséria que a maioria dos trabalhadores do Norte "usufrui"... O salário mínimo passou a ser o normal, ou seja o "salário médio"... desculpem, mas também graças a pessoas doutoradas honoris causa que empregam milhares de pessoas a salário mínimo. Ainda bem que empregam. ainda mal que empregam a salário mínimo.

Não há "os interesses do Norte". No Norte há vários interessados e doutra forma não pode deixar de ser.