De: Frederico Torre - "De novo o Rivoli"
Boa tarde,
Queria antes de mais dar os parabéns à Cooperativa Cinema Novo, caso esta avance para a gestão do Rivoli. Este sim, é o processo de levar as coisas a bom porto e resolver os seus problemas.
Havendo essa possibilidade, é sinal de que não são assim tão desinteressantes as condições apresentadas pela Câmara.
Não deixo no entanto de salientar aquilo que me parece ter sido um processo bastante mal gerido, uma vez que parece que, em vez de primeiro resolver os possíveis problemas que resultam da concessão (por exemplo, garantir a priori os festivais como o Fantasporto e o Fitei) e depois apresentar o projecto, optou-se por primeiro apresentar o projecto e depois ir resolvendo os problemas que fossem aparecendo, de preferência na praça pública.
Não é de certeza esta a melhor maneira de conduzir as coisas.
Dito isto, a verdade, na minha opinião, é que a ideia em si é boa, estando-se perante um daqueles casos em que a intenção é boa, a execução é que é má. Não compreendo como é que antes de dar um passo destes não houve reuniões com as entidades devidas de modo a clarificar tudo antes, e não depois.
Quanto ao ataque cerrado que tem sido feito aqui no blog por alguns contra esse bicho papão que é o Lucro, eu continuo a acreditar que é esse mesmo lucro que garante a eficiência dos projectos, sendo de longe o melhor incentivo para uma gestão de qualidade, garantindo-nos a todos mais qualidade com menos custos.
No caso de um projecto com uma forte componente social, com é o caso do projecto do Rivoli, sou da opinião que o Estado deve apoiar aqueles projectos que considere de grande importância para a cidade, e não todos!
E aqui começa a parte difícil.
O que eu defendo é que, comparando o caso em que o Estado é o gestor e usa o seu património (imóveis, recursos humanos, etc.) para apoiar uma iniciativa e o caso em que esses mesmos imóveis e recursos humanos são privados, ficando a gestão a cargo desses mesmos privados, com o Estado a entrar apenas com o beneficio económico que considera justo, o segundo caso resultará num melhor serviço, com custos iguais, senão menores.
Obviamente que, para tal acontecer, as pessoas à frente do projecto precisam de ter qualidade, o que, infelizmente, nem sempre acontece, acabando demasiadas vezes em algum amigo do amigo do amigo.
Mas o que está mal é isto, e não a ideia em si!!!!
Quanto aos vários espaços na cidade que não funcionam ou estão num estado deplorável, a culpa não é deles serem privados, mas muito provavelmente dos privados que estão à frente desses projectos (e aqui posso estar a ser injusto, porque não conheço nem as pessoas, nem os casos em especifico). É como tudo, existem empresas com lucros fabulosos e outras com prejuízos monstruosos, mas a culpa não é de elas serem privadas.
Alguém duvida que com um Dr. Belmiro de Azevedo ou João Lagos à frente destes espaços eles davam lucro?
Assim, e para concluir, também sou da opinião que é função do Estado apoiar a disseminação da Cultura e apoiar projectos que, não sendo economicamente rentáveis, têm um interesse para lá dessa questão. Mas isso não significa apoiar TODOS os projectos, com medo de estar a discriminar! Significa sim apoiar aqueles que, por algum motivo, sobressaem sobre os outros. Coisa que, aparentemente, o nosso Estado nunca conseguiu fazer. Quantidade não é qualidade!
Por fim, uma última picadela: gostava de ver os teatros e não só a trabalhar para conseguir apoios de mecenas privados em vez de organismos públicos. O Estado não tem por missão ser um banco a fundo perdido.
Com o maior respeito por todos,
Frederico Torre