De: TAF - "A alegria dos outros é uma chatice"

Submetido por taf em Sexta, 2010-05-14 16:50

Caro Pedro Figueiredo

Começo por lhe desejar bom fim de semana, porque está a precisar. ;-)

Então fica incomodado por tantas dezenas de milhar de pessoas manifestarem publicamente o seu regozijo pela presença na cidade de alguém que respeitam e admiram, e que acham prestigia desse modo a região Norte? Por haver tolerância de ponto (mas não obrigação...) para que possam participar num evento tão invulgar?

Ruas fechadas? Fechadas para veículos automóveis. Experimentou andar a pé? Ou bicicleta? Ou o problema afinal é o vermelho dos sapatos Prada do Papa (uma das Grandes Questões Mundiais), que tanta impressão lhe fazem? Mas, meu caro, não encontro melhor exemplo de ser mais papista do que o Papa, pois afinal a definição absoluta do que é o verdadeiro cristianismo é pelos vistos a sua. Imagino que defenda que o Vaticano deva vender os seus palácios e o seu riquíssimo património (que não liquidez financeira, caso não saiba), em nome desse seu cristianismo. Eu acrescentaria então que o Porto deveria vender já a Torre dos Clérigos e o nosso belíssimo conjunto de pontes sobre o Douro. A Diocese do Porto dispensava bem a Catedral. E o Palácio da Bolsa é claramente excessivo para a Associação Comercial do Porto. O Património é capaz de ser o ópio do povo, também. ;-)

Agora a sério: ninguém o quer obrigar a concordar com a doutrina da Igreja Católica nem muito menos a ser um dos fiéis. Mas admita ao menos o direito ao exercício da liberdade dos cada vez menos numerosos católicos, e reconheça o papel absolutamente ímpar que a Igreja tem desempenhado no apoio social aos mais desfavorecidos, área em que o Estado (ou seja, todos nós...) tem falhado miseravelmente. Constate também que o grande número de pessoas que esteve hoje nos Aliados só se explica pelas raízes profundamente cristãs que existem nos portuenses (e são também património, goste-se ou não), pois aposto que a maioria dessas pessoas não é praticante.

Eu sou católico praticante e não estive nos Aliados. Se calhar é uma afinidade minha com Bento XVI, também sou mais "intelectual" do que dado a efusivas manifestações públicas, e fiquei a trabalhar. :-) Mas só não fui porque tinha a certeza de que o Papa seria bem recebido, como se verificou; caso contrário eu teria estado lá com todo o gosto. Venha ele mais vezes que ficaremos todos (ou quase) com mais ânimo para produzir aquilo que o Estado nos rouba com o IVA.