De: Nuno Oliveira - "A couve desperdiçada"
Caro TAF,
Gostei bastante da atenção prestada ao potencial produtivo dos terrenos "em espera" do Porto no seu artigo do JN, que vem no seguimento de um dos assuntos predilectos do arq.º Gonçalo Ribeiro Telles, agora uma tendência internacional explosiva que em Londres já se traduz em negócios de "allotments" para cultivo alugados a preços incríveis para terrenos agrícolas. Cá, apesar de aqui e aqui se falar do "último agricultor da Foz", os quintais com um pequeno talhão para hortícolas nunca foram completamente abandonados e existe a possibilidade de terem agora uma expansão com o interesse sobre este assunto que surgiu e que tem vindo a aumentar.
Para ilustrar, um breve ponto de situação em relação a Hortas Comunitárias pelo país fora: Guimarães (maior do país?), lista de espera ultrapassa a centena, tem um ano e já vai ser duplicada; Ponte de Lima, tem alguns meses e já tem lista de espera; Horta à Porta da Lipor, na área metropolitana do Porto, tem 700 (!) pessoas em lista de espera; o Funchal tem uma lista de espera de 300 pessoas. Muitos municípios estão a implementar a sua versão destes espaços (como Lisboa, na zona de Chelas, ou a de Coimbra, em expansão), que surgem com a valorização da agricultura, da importância de conhecer a origem dos alimentos, da subsistência e até do convívio.
Uma solução possível para o Porto é uma que me parece semelhante ao sugerido no artigo e que seria aquela que está a ser implementada no Seixal: fez-se um levantamento de pequenos terrenos dispersos com potencial de integração na estrutura verde municipal, sejam camarários e/ou privados em vez de um grande espaço concentrado. Existem bastantes quarteirões "ocos" de Santo Ildefonso a Campanhã. Os terrenos são angariados por contactos com os privados e negociação de um aluguer (alguns encontravam-se à venda há algum tempo e são assim aproveitados de outra forma, pelo menos temporariamente).
Havendo interesse julgo ser fácil elaborar um pedido de intervenção deste tipo à Câmara com um levantamento e proposta iniciais, tendo o apoio das muitas pessoas em listas de espera e de todas aquelas que não dispõem de um quintal, como este casal no Bairro do Balteiro, que cultiva um separador de trânsito.
Boa semana
--
Nuno Oliveira